Água Seca, por Xico Graziano

Prepare-se: vai faltar água na torneira. A situação é extremamente crítica. Em pleno verão, época de abundantes chuvas, os reservatórios estão minguados. Na agricultura, o forte calor associado às baixas precipitações estorrica as lavouras. Anda em busca de explicações o inusitado fenômeno climático.

 seca00

Prato cheio para o catastrofismo ecológico. Estrilam sua voz os que apregoam o fim do mundo pela nefasta ação do homem sobre o meio ambiente. Na teoria das mudanças climáticas, o efeito antrópico sobrepõe-se às causas naturais. E uma de suas consequências, nessa questão hídrica, seria a maior variabilidade na lavanderia de São Pedro: épocas muito chuvosas se alternariam com outras muito secas, no mesmo local. Tempo maluco.

Em decorrência do aquecimento global, causado pelo acúmulo de CO2 na atmosfera, haveria também um deslocamento das zonas úmidas. No caso brasileiro, por exemplo, supõe-se que até o final deste século a floresta amazônica se transforme numa savana, um bioma árido semelhante ao cerrado do Centro-Oeste. Nesta região, inversamente, passaria a chover mais. Vai saber.

Há quem, observando as margens dos mananciais, jogue toda a culpa da falta d’água na supressão das matas ciliares, aquelas que protegem as beiradas dos rios, córregos e nascentes. É exagero, mas a questão existe. Houve, nos campos e nas cidades, uma ocupação desordenada dessas áreas ribeirinhas, prejudicando os recursos hídricos. Pelo interior afora se contam inúmeras minas d’água que tristemente secaram por causa do intenso desmatamento.

Hoje em dia, porém, a situação está melhorando. Aqui, no Estado de São Paulo, o desmatamento cresceu até os anos 1990, verificando-se um processo de recuperação ambiental desde então. Dados do Inventário Florestal indicam que a vegetação natural cobre atualmente uma área de 4,3 milhões de hectares, correspondente a 17,5% do território paulista. Antes eram 13,9%. Maior conscientização somada à repressão policial trocou a página da supressão vegetal, abrindo a da regeneração florestal. Com ajuda das áreas canavieiras, formam-se corredores de biodiversidade serpenteando os cursos d’água no campo. Fauna e flora agradecem.

Pode ser que as mudanças climáticas e a ocupação humana estejam afetando o regime de chuvas. Seca, porém, não é privilégio contemporâneo. Na História da humanidade verificam-se terríveis períodos com pronunciada falta d’água. Sua repetida ocorrência é arrolada por Jared Diamond entre as explicações do colapso da civilização maia. Somados à exploração exaustiva dos recursos naturais na península mexicana de Yucatán, longos períodos de severa estiagem explicam a derrocada de Tikal, por volta de 600 d.C. Era apenas o começo da desgraça. Todo o povo maia acabou terrivelmente afetado por uma grande seca iniciada em 760, cujo auge se deu 40 anos mais tarde. Uma década depois, em 810, seguidos anos com pouquíssima chuva aniquilaram essa agricultura pré-colombiana. Ferozes reis guerreavam buscando alimento e água. Até que, a partir de 910, uma seca de seis anos seguidos arrematou a tragédia.

Falar em seca aqui, no Brasil, lembra o Nordeste. Vem de longe o recorrente problema. O primeiro relato da falta de chuvas na região é de 1583, descrito pelo padre Fernão Cardim, então apiedado pelo sofrimento dos índios do sertão. Quase dois séculos depois, entre 1877 e 1879, parte importante dos moradores de Fortaleza pereceu em devastadora seca que afetou especialmente o Ceará. De tempos em tempos o nordestino padece no tórrido chão. Há dois anos, metade do gado bovino morreu no semiárido, durante a maior seca dos últimos 50 anos.

Os eventos históricos mostram, à farta, que muito antes de os cientistas se preocuparem com o meio ambiente as secas já danificavam economias e arrasavam populações. Os dramas mais recentes, desnudados pela facilidade das comunicações, ganharam viés ecológico, impressionando a opinião pública. Mas, cientificamente, ninguém garante os motivos que levaram a Austrália a ver sua competitiva agropecuária decaída por uma década de atípica de chuvas no início deste século. Na Califórnia (EUA), atormentada pelo terceiro ano seguido extremamente seco, o fenômeno continua sem explicação.

Pouco importa descobrir culpados, sejam humanos ou celestes. Em face do crescimento populacional e do consumo crescente, é imperativo investir seguidamente na proteção dos recursos hídricos, elevando a capacidade de “produção” e armazenamento de água. No curto prazo, com a ameaça de a torneira secar, resta somente uma alternativa: combater desperdícios, reduzir o gasto do precioso líquido. Nessa hora, desgraçadamente, se descobre que nossa cultura beira o esbanjamento, não o racionamento. É terrível.

Noutro dia, deparando com o zelador do prédio vizinho ao meu lavando a calçada com mangueira, tive a ousadia de interpelá-lo: “Vamos economizar água, meu amigo!” Tomei como resposta um xingo irônico: “Quem vai pagar a conta é você?”. O incauto não tinha a menor ideia da gravidade da situação de nossos mananciais.

Desperdiçar água simboliza o passado. O Amazonas e os demais grandes rios brasileiros sempre transmitiram uma noção equivocada de fartura do precioso líquido, criando entre nós a impressão de ser a água um bem infinito. Essa incompreensão só se conserta com educação ambiental. É nos bancos da escola que se descobre que apenas 2,7% de toda a água existente na Terra é doce e que os rios e lagos respondem por ínfimos 0,3% dessa quantidade.

As crianças, educadas com novas atitudes, sabem que economizar água significa civilidade. Por isso não lavam calçadas.

 *Xico Graziano é agrônomo e foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: xicograziano@terra.com.br.

O artigo pode ser lido no site do Estadão, onde foi originalmente publicado. Basta clicar aqui.

 

Judiciário preguiçoso e insolente

Nichos de incompetência, burocracia e preguiça ainda grassam no Judiciário. A despeito do advento do CNJ e dos esforços que têm sido empreendidos para melhorar o atendimento à população, há núcleo de funcionários que ainda criam regras e adotam comportamentos cujo único objetivo é o de prejudicar o cidadão que depende de seus serviços.

davigolias

Tente, por exemplo, obter uma autorização para menor viajar desacompanhado na Vara da Infância e Juventude do Fórum João Mendes, em São Paulo. Você vai ver que delícia é defrontar-se com a lassidão e a má-vontade de um grupo de pessoas pagas com o seu dinheiro para, em tese, servi-lo quando você necessitar.

A dificuldade começa já na compreensão da norma legal. Crianças com 12 anos de idade ou mais são consideradas “maiores de idade”. Podem viajar por todo o País desacompanhadas e prescindem de autorização de quem quer que seja para embarcar. Suspeito que deve haver alguma relação entre isso o fato de incidir justamente nessa faixa etária , que vai dos 12 aos 18 anos de idade, o maior número de desaparecimentos de pessoas no País. Mas isso é mera suposição.

Não te parece engraçado que uma simples autorização dos pais, de próprio punho, seja suficiente para que uma criança viaje para fora do País, ao passo em que é necessário que um juiz autorize o embarque para destinos dentro do Brasil ?

De acordo com o CNJ, não. “A saída de uma criança do país é mais facilmente monitorada. Já a locomoção dela sem a companhia de um “responsável” , dentro do país, poderia gerar uma maior quantidade de desaparecimento. Daí a preocupação do legislador em submeter à autorização para uma criança (não adolescente) viajar dentro do país ao crivo do juiz. Seria uma dupla proteção”, é o que declarou ao Blog Acta Diurna o Conselho Nacional de Justiça.

Absorvida essa primeira contradição, é hora de tentar localizar um endereço aonde ir para autorizar a viagem. Antigamente havia postos do juizado de menores nos aeroportos e rodoviárias. Mas agora, apesar do aumento vertiginoso do número de passageiros em viagem pelo Brasil,  não há mais. A burocracia do Judiciário se desinteressou completamente da aflição de pais que precisam embarcar seus filhos pequenos. Você vai ter que ir até uma das varas da Infância e Juventude para obter o documento. 

Em São Paulo, moradores da região central são obrigados a recorrer ao cartório da vara da Infância que fica localizado no sexto andar do Forum João Mendes. Lá, três funcionários muito mal-humorados vão te fazer esperar um bom tempo até que comecem a criar as primeiras dificuldades para o seu caso. A primeira pergunta geralmente é “para quando o senhor precisa desse documento?”

Se a resposta for “para já”, esqueça. Apesar de o preenchimento do formulário não demandar mais do que dois ou três minutos, os atendentes do plantão provavelmente vão dizer que a autorização “só fica pronta amanhã”. Ainda que você tenha realmente muita pressa, não vale a pena insistir. Isso pode despertar a ira do serventuário que está a atendê-lo e fazer com que o processo burocrático comece a mover as engrenagens contra a sua necessidade.

“Comprovante de residência”. Esta será a senha para você compreender que o Reino de Hades é ali. Além dos documentos de identificação da crianças e dos seus próprios documentos de identidade, o funcionário do cartório vai começar o circuito da iniquidade pedindo que você comprove que mora na área de competência daquele cartório — uma exorbitância que não tem amparo na lei.

“Não há previsão legal. O importante é quem deve autorizar; não onde mora o autorizador “, é o que diz o CNJ. Portanto, não poderia ser feito, uma vez que a adoção de qualquer exigência não prevista por lei fere o princípio da legalidade —  aquele segundo o qual o agente público só pode fazer aquilo que está expressamente previsto, não pode agir no silêncio da lei.

No entanto, o próprio CNJ admite: “Talvez a exigência esteja sendo feita para evitar a emissão desarrazoada de autorizações para moradores de outra localidade, o que poderia impedir o bom atendimento aos jurisdicionados”. Não é o caso, mas a simples admissão de que um documento alienígena esteja sendo solicitado por serventuários da Justiça já é, em si, um fato grave, capaz de conspurcar a natureza da relação entre o cidadão e o Estado.

Para enfrentar tudo isso, sugiro aos pais que providenciem a autorização para seu filho viajar com muita antecedência. A má-vontade, a preguiça e insolência são doenças crônicas que ainda acometem nosso serviço público. O Judiciário, o mais refratário dos Poderes a qualquer forma de modernização e controle, ainda tem muito o que mudar até que seus próprios funcionários entendam que estão ali para facilitar, e não para dificultar a vida dos cidadãos.

Parar de inventar normas, sem nenhuma sombra de dúvida, ajudaria a fazer o processo avançar.

Neonazistas ‘misóginos’ ensinam a fazer explosivos na internet

Uma página eletrônica que se autodefine como espaço para “homens brancos da raça ariana, heterossexuais, machistas-misóginos, racistas e anti-semitas” foi criado para difundir o ódio racial, a intolerância étnica, religiosa, de gênero e incitar atos de terrorismo. A página, denominada “Homens Brancos”, está hospedada no servidor de blogs WordPress (clique aqui para acessá-la).

homensbrancos

O conteúdo do site é puro lixo ideológico. O título de um dos posts é  “100% das mulheres são vadias”.  O texto, entre outras barbaridades, afirma que “o comportamento feminino é até pior do que de um animal, pois pelo menos alguns animais possuem senso de lealdade (cachorro/cavalo) e a mulher não, o comportamento dela é de uma cobra ou de um inseto (aranha viúva negra) na base da covardia, trapaça e parasitagem. Uma das artes milenares é o espancamento, estupro e apedrejamento de mulheres, tal como funciona no oriente médio”, enaltece o artigo.

Ao final da sequência de impropérios, o post recomenda: “MATE toda traidora racial, ESTUPRE toda lesbo-feminista, ESPANQUE toda mulher que ridicularizar a sua autoridade e DIFAME o comportamento negativo de toda vagabunda que “caiu na net” ou botou chifre na cabeça de mais um otário cuzão”.

Além de incitar a violência contra mulheres, o site ensina a fazer vários tipos de explosivos que podem ser utilizados em atentados terroristas. Há uma sessão inteira destinada a ensinar como fazer coquetéis molotov, dinamite e ANFO. A maior parte das fórmulas pode ser manipulada em casa. Não há nenhum alerta quanto ao risco de explosão acidental.

O Blog Acta Diurna vai enviar uma cópia desta reportagem à Polícia Federal, à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e à Promotoria da Mulher do Ministério Público do Estado de São Paulo.

Carta aberta à minha pequena, por Victor Sá

Minha pequena,

Enquanto você está sendo preparada aí na barriga da mamãe, o mundo aqui fora está bastante dodói.

Daquelas doenças que não sabemos se é melhor desejar a morte e consequentemente o alívio, ou lutar enfrentando as possíveis sequelas e dores. Eu não queria ser obrigado, pequena, a te dizer essas coisas tão cedo. Mas temo que quando você sair daí se assuste com tanta mesquinharia e queira voltar. Preciso te preparar, minha filha.

Olha, meu amor, a vida aqui não tá fácil, mas se você odiar muito, prometo que podemos fugir pro Uruguai, tá? Promessa viu?

bebe

Eu sei que você não pediu pra nascer. Mamãe e eu que inventamos essa história e por isso mesmo, queria conseguir mudar o mundo nesses próximos 4 meses que faltam até você estar pronta. Mas, pequena, você tem que saber logo de cara: Eu não sou um super-herói. Papai não consegue mudar o mundo. O que não quer dizer que desistirei, viu? Cê vai me ajudar nessa, lindinha.

Mas ó, pra você não se assustar já te aviso: Você vai vir pra um lugar onde tem gente que defende tortura, preconceito, machismo, segregação, racismo, e mais um monte de coisa ruim. Inclusive, tem gente que defende isso na televisão! É, televisão é onde o papai trabalha. E eu juro que tento entender o tamanho disso e ser sempre ético. Ah, aproveito pra prometer, desde já, não te usar pra justificar escolhas cretinas, tá?

Esse ano começou muito difícil, meu amor. Parece que o pior das pessoas está na moda. Já rolaram várias tragédias. Semana passada, um cinegrafista morreu trabalhando filmando uma manifestação. Assim como o papai, ele trabalhava na televisão. Foi um acidente muito trágico e triste. Sabe, amor, coisas ruins podem acontecer com pessoas boas. São mistérios da vida que nunca conseguiremos aceitar por completo e muito menos entender. Às vezes, o caminho é chorar a valer. Isso é importante você saber: Chorar, se permitir sentir, é sempre um caminho louvável, sabe? Eu pelo menos acho e tento fazer assim. A vida é difícil pra caramba, amor. Mas estaremos juntos.

Bom, o homem que morreu era um cara muito bem quisto por todo mundo. Papai não o conheceu, mas viu que todo mundo ficou bem triste e gostava demais dele – A tristeza nesses casos é super normal, viu? Não tenha medo da tristeza, ela também faz parte das coisas bonitas da vida (depois tento explicar isso melhor) – O problema, é que uma gente má intencionada quer se aproveitar do acidente. Uns políticos sujos querem aproveitar o momento de dor e aprovar leis que vão contra nossos sonhos, meu amor. Querem transformar jovens corações libertários em terroristas. Esses políticos morrem de medo da liberdade. Nada os amedronta mais que nossos sonhos, pequena, por isso eles querem prender todo mundo que pensa e luta. Ano passado, meu amor, o titio Pedrão foi preso, acredita? Por sorte, essa lei maluca não existia e todo mundo percebeu que o tio Drão é um dos caras mais legais do mundo e ele tá solto agora. Ufa, né amor?

Nessa onda oportunista, alguns veículos da imprensa tentaram transformar os movimentos sociais e partidos de esquerda em criminosos! Olha que absurdo, pegaram um dos poucos políticos sérios e inventaram uma “não-notícia” sobre ele. Tão absurdo que até virou piada: #ligaçãocomfreixo é uma hashtag que tá bombando. Mas não vou explicar o que é hashtag, isso cê vai sacar rápido.

E no meio disso tudo, tem uma coisa chamada “opinião pública”, meu amor. Nossa, quanta gente burra você vai conhecer na sua vida. Ó, tem um negócio aqui chamado facebook. Papai perde muito mais tempo que deveria nele. E lá aparecem pessoas que você podia jurar que eram normais, e até bacanas, mas do nada escrevem defendendo a pena de morte (!), falam burrices como “direitos humanos pra humanos direitos”, “bandido bom é bandido morto” “que se Deus gostasse de gays não teria feito o homem e a mulher”, “feminismo é o contrário de machismo”, “adote um marginal”. Eu não sei explicar esse fenômeno. Mas sinceramente te recomendo distância desse tipo de gente. De verdade. Sabe, é difícil, eles estão em tudo que é canto. E às vezes é só ignorância e vale a pena conversar, discutir, e todos crescerem com o debate. Só que tem casos que, realmente, não quero você se relacionando com esse tipo de ser humano. Eu juro que não sei se eles são burros ou mal intencionados, mas em todo caso, acho melhor você evita-los. Pelo menos até uma certa idade, amor. Depois você pode se aventurar em debater com eles. Mas por enquanto, acho mais seguro andar com quem acredita no amor, na liberdade, na tolerância , como papai e mamãe, tá? (Mamãe tá aqui do lado lembrando que você pode contar também com o titio Matheus. Além dele sempre escrever sobre os “Almeidinhas” da opinião pública, ele já fez um irmãozinho/amiguinho, o Miguel, afilhado da mamãe)

Na real, é simples, se a pessoa começar qualquer frase com “não sou preconceituoso, mas…” você nem precisa ouvir. Juro, isso vai te poupar muito tempo.

Nesse mesmo ano, a polícia já matou gente inocente, amor. Eles fazem isso, pequena. A explicação é longa, vem de lá trás quando o país era dominado pelos militares. Uns caras muito malvados que acreditavam em conceitos doentios como hierarquia e tortura. Nós aqui em casa somos contra as duas coisas, tá? Bom, além disso, o pessoal da polícia é super mal treinado, mal pago e mais um monte de coisa. Vou te explicar melhor um dia. E não é que papai odeia policial. Não é isso de jeito nenhum! Mas muitos deles (não todos) já fizeram muito mal pra muitos amiguinhos do papai. Por exemplo, quando eu e o titio Filé tínhamos 13 anos, quase levaram ele. O tio Filé conta que soltaram ele porque ele é loirinho e branco, mas que o rapaz ao lado, negro, foi bastante espancado. Era nossa primeira passeata. Mas, amor, não podemos alimentar esse sentimento de ódio contra eles, tá? Policial é trabalhador, nós não podemos nunca estar contra os trabalhadores. O que defendemos, pequena, é uma polícia que não seja militar. Que seja bem remunerada, bem humorada, inteligente e que sirva e proteja a gente. É isso que defendemos aqui, tá? Uma polícia amorosa. (eu até mudaria o nome de polícia pra “amigões”, imagina? “Problemas? – Chame os amigões!”) Mas infelizmente, minha filha, isso é distante de nossa realidade. E olha que somos brancos de classe média alta. Para quem não é nenhuma dessas duas coisas, é bem pior. É, amor, tem isso também.

Você vai achar estranho só o tio Heitor ser negro entre seus titios. Bom, é triste, mas é isso. Estudei em um colégio pago com inclinações fascistas sem nenhum coleguinha negro. E na faculdade tinham apenas dois ou três negros na sala do papai. Um deles é o nosso querido titio Heitor. Aliás, além de negro ele é gay. E nós amamos ele demais, viu? Pra explicar isso é bem difícil, mas bem pouco tempo atrás os negros eram tratados como escravos. Eu não vivi isso, faz tempo, mas não tanto tempo quanto gostaríamos. Depois de muita luta, isso mudou. Mas infelizmente, o preconceito e algumas ideias daquela época continuam. Essa será mais uma luta nossa viu, amor? E uma dica, se alguém negar que existe isso, se te falarem que não existe racismo, saiba, essa pessoa provavelmente é racista. (é só uma dica, mas cê vai perceber que funciona quase sempre)

Outra coisa, tem gente aqui que acha engraçado tirar sarro, humilhar minorias e reforçar preconceitos. Eles chamam isso de “humor politicamente incorreto”. Eu sei, é uma coisa louca que não faz sentido nenhum. Imagina, “incorreto” jogar o jogo dos poderosos e se posicionar com a maioria? Sim, pequena, eles são maioria. Mas fica calma. Nós somos sonhadores, e não somos os únicos. O tio John Lennon me ensinou e eu vou ensinar você.

Se o mundo não é o lugar ideal pra te trazer, com certeza, ele será um lugar melhor com sua chegada.

Amor e beijos anárquicos,

Papai.

Clique aqui para visitar o blog do Victor

O Rio de Janeiro e pequena barbárie de todo santo dia

Todo mundo diz que o Rio de Janeiro é uma zona, que fica no limiar entre a civilização e a barbárie, que é a terra da Lei de Gerson, o que não deixa de ser ao menos parcialmente verdade. A cidade, engastada em um dos locais mais privilegiados do planeta em matéria de relevo, meio-ambiente e clima, tem seríssimos problemas de organização de seus espaços urbanos e distribuição dos bens públicos. Não chega a ser Sodoma, mas um pouco de enxofre e fogo talvez não fizessem mal ao processo civilizatório. Especialmente se despejados no lombo de meia dúzia de políticos  e burocratas que se acham acima das leis e dos bons costumes.

 rjestacionamento2

Obseve a foto aí em cima. Ela mostra algo que os cariocas nem enxergam mais: em frente ao prédio onde funciona a Secretaria de Segurança Pública, carros são estacionados sobre a calçada, obrigando os pedestres a utilizar a rua para se deslocar.

O incrível é que a nem todos os cidadão é facultado o direito de cometer essa infração. As vagas são controladas por flanelinhas fardados. São os soldados a serviço do comando do Segundo Exército, sediado no Palácio Duque de Caxias, que tomam conta dos veículos e organizam o acesso ao estacionamento-calçada. Só têm acesso às vagas altos oficiais do Exército e burocratas de alto coturno da SSP-RJ. E ai de quem reclamar. 

Na foto logo abaixo, outro flagrante desrespeito à legislação. Há 15 anos as normas de trânsito proíbem o transporte de passageiros nas condições que a fotografia registra. A vedação está prescrita no Art. 230 do Código de Trânsito Brasileiro e no decreto 2327/98 do DENATRAN. Mas não vale para a Polícia Militar do Rio de Janeiro. Na quinta-feira passada, duas camionetes lotadas de soldados do Batalhão de Choque costuravam o trânsito nas avenidas Atlântica e Princesa Isabel, em Copacabana, lotadas de soldados da corporação.

rjestacionamento

Das duas, uma: ou o BPChoque não preza minimamente as normas, ou não preza as vidas dos PMs que transporta nessas condições. Uma coisa, no entanto, é inquesionável: a PM do Rio de Janeiro, que tem como uma de suas atribuições controlar e fiscalizar o trânsito, desconhece e despreza solenemente a legislação e não se importa em disseminar maus exemplos. 

Freixo outra vez, por Caetano Veloso

Gosto de Freixo não porque ele é do PSOL. Acho que gosto um tanto do PSOL por ele abrigar Freixo. Sou independente, conforme se vê. Ser estrela é bem fácil. Nada importam as piadas dos articulistas reacionários que classificam minhas posições como Radical Chic. Desprezo a tirada de Tom Wolfe desde o nascedouro. Antigamente tentavam me incluir na chamada esquerda festiva. Isso sim, embora incorreto, me agradava: a expressão brasileira é muito mais alegre, aberta e democrática do que a de Wolfe. Mas tenho vivido para desmontar o esquema que exige adesão automática às ideologias da moda. Deploro o resultado das revoluções comunistas. Todas. E, considerando o Terror que se seguiu a 1789, sou cético quanto a revoluções em geral.

caetanovelosobb

Na maioria das vezes, a violência se dá, não para fazer a história humana caminhar, mas para estancar seu fluxo. Olho com desconfiança os moços que entram em transe narcisista ao quebrar vidros crendo que desfazem a trama dos poderes. Ainda hoje não consigo adotar a posição que considera Eduardo Gianetti, um liberal crítico, ou André Lara Rezende, o homem que põe em discussão o crescimento permanente, conservadores. Nem acho que o conservadorismo seja necessariamente um mal. A adesão de alguns colegas meus à nova direita me deixa nauseado, não por ser à direita, mas por ser automática.

Simplesmente me pergunto qual exatamente será a intenção do GLOBO ao estampar manchetes e editoriais induzindo seus leitores a ligarem Marcelo Freixo aos rapazes que lançaram o rojão que matou Santiago Andrade. A matéria publicada no dia em que saiu a chamada de capa com o nome do deputado era uma não notícia. Nela, a mãe de Fábio Raposo, o rapaz que entregou o foguete a Caio Souza, é citada dizendo acreditar que o filho “tem algum tipo de ligação com Freixo”. Isso em resposta a uma possível declaração do advogado Jonas Tadeu Nunes, que, por sua vez, partiu de uma suposta fala da ativista apelidada Sininho. O GLOBO diz que esta nega. Como então virou manchete a revelação da possível ligação entre o deputado e os rapazes envolvidos no trágico episódio? Eu esperaria mais seriedade no trato de assunto tão grave.

Li o artigo do grande Jânio de Freitas em que ele defende a tese de intenção deliberada de assassinar um jornalista, o que está em desacordo com as imagens exibidas na GloboNews. Sem falar na entrevista do fotógrafo, que afirma que o detonador do artefato tinha mirado os policiais. Claro que me lembrei, ao ver a primeira reportagem na GloboNews, dos carros de emissoras de TV incendiados durante as manifestações, o que me levou a participar da indignação dos âncoras do noticioso. Um vínculo simbólico entre aquelas demonstrações de antipatia e o ocorrido em frente à Central é óbvio: um rojão sai das mãos de um manifestante e atinge a cabeça de um jornalista. Mas parece-me abusivo ver nisso o propósito de matar o repórter. Nas matérias que se seguiram, O GLOBO, ecoando falas do advogado Jonas Tadeu, que diz não ser pago por ninguém para defender os dois réus mas conta que um deles diz receber dinheiro para ir às manifestações, insiste em lançar suspeita sobre Freixo, por ser o PSOL, seu partido, um possível doador do alegado dinheiro. Na verdade, as declarações do advogado, mesmo nas páginas do GLOBO, soam inconvincentes. O mesmo Jânio de Freitas, em artigo posterior àquele em que defende a tese de assassinato deliberado, se mostra desconfortável com o comportamento de Jonas Tadeu. Já O GLOBO, no qual detecto uma sinistra euforia por poder atacar um político que aparentemente ameaça interesses não explicitados, trata as falas de Tadeu sem crítica. Uma das manchetes se refere a vereadores do PSOL que teriam contribuído para uma ação na Cinelândia, na véspera de Natal, sugerindo ligação do partido com vândalos, quando se tratava de caridade com moradores de rua. O tom usado no GLOBO é, para mim, de profundo desrespeito pela morte de Santiago.

Freixo, em fala firme ao jornal, desmente qualquer ligação com os dois rapazes. Ele também lembra (assim como faz Jânio) que Jonas Tadeu representou o miliciano Natalino.

Quando Freixo era candidato a prefeito, escrevi artigo elogioso sobre ele. O jornal fez uma chamada de capa que, a meu ver, desqualificava meu texto. Manifestei minha indignação. A pessoa do jornal que dialogava comigo me assegurou não ter havido pressão dos chefes. Acreditei. Agora não posso deixar de me sentir mal ao ver a agressividade do jornal contra o deputado. Tudo — incluindo os artigos de autores por quem tenho respeito e carinho — me é grandemente estranho e faço absoluta questão de dividir essa estranheza com quem me lê.

O artigo de Caetano foi publicado originalmente no jornal O Globo e pode ser acessado aqui:  http://oglobo.globo.com/cultura/freixo-outra-vez-11616610#ixzz2tUZAXtSZ 

Tolerância Zero, por Dora Kramer

A intolerância está em toda parte. Na internet chegou a níveis insuportáveis. Nas ruas manifestações abrigam pistoleiros de aluguel. A presidente da República reage a críticas com termos de vulgaridade incompatível com o cargo, desatenta ao fato de que reeleição rima com reputação.

mstpmbsb

Na Praça dos Três Poderes os sem-terra tentam invadir o Supremo Tribunal Federal em conflito cujo saldo foi de 30 feridos, oito deles em estado grave. A oposição acorda da letargia e vai ao ataque, enquanto na base governista a revolta se avoluma e no tradicionalmente submisso setor empresarial a grita é diária e cada vez mais contundente.

À atmosfera ruim acrescenta-se o imprevisível: o rumo da economia, o risco de a Copa do Mundo se transformar num presente de grego e uma campanha eleitoral que será tão mais acirrada e conturbada quanto maior for a redução do favoritismo da presidente Dilma Rousseff. Com isso, o aumento da probabilidade de o PT se ver em via de voltar à planície.

A tensão aproxima-se do clímax, mas não surgiu de repente nem nasceu por geração espontânea. É filha legítima da dinâmica beligerante que o PT imprimiu ao seu modo de governar, tendo Luiz Inácio da Silva como o comandante em chefe.

O ato de confraternização em que Lula vestiu o boné do MST logo no início de seu primeiro governo soou como um aval do então presidente às ações do movimento. Raras as que não tinham caráter violento. Quando não de agressão física, de ofensa ao direito de propriedade consagrado pela Constituição.

A sucessora agora repete o ato de fiança aos renitentes infratores da lei quando os recebe em Palácio no dia seguinte à promoção de um conflito ali mesmo às portas do Planalto. A motivação? Reatar o diálogo com o MST, como se fosse conversa o objetivo de quem invade, depreda e destrói laboratórios de pesquisa.

Dilma retoma, assim, a mecânica conflituosa que Lula resumiu na expressão “nós contra eles” ao dividir o País entre apoiadores patriotas e críticos conspiradores.

Não há, pela lógica do governo, opositores. Há inimigos a serem dizimados. O exemplo “de cima” espalhou-se pirâmide social abaixo, contaminou os oposicionistas igualmente enraivecidos e fez da tolerância artigo em extinção.

A ausência de civilidade se generalizou. Não se trocam ideias, altercam-se insultos.

Sabem o senhor e a senhora do que anda precisando nosso País? Uma mudança de hábitos. Por exemplo, competência e honestidade são valores a serem bem pesados e medidos na hora da escolha de governantes.

Mas se a esses atributos acrescentarmos a familiaridade com bons modos e respeito ao melhor da língua portuguesa, podemos contar com a expectativa do retorno a um País senão ilusoriamente cordial, ao menos minimamente civilizado.

Meia-trava. O voto aberto para cassações de mandatos de parlamentares é providência merecedora de todas as homenagens recebidas. Convém, contudo, confiar desconfiando.

Levar em conta o outro lado da moeda e aguardar para conferir se não vai diminuir consideravelmente o número de casos de pedidos de punição por quebra de decoro parlamentar levados ao Conselho de Ética, que chegarão ao plenário.

Ou, por outra: como o voto no conselho também é aberto, o travamento pode se dar nas Mesas Diretoras da Câmara ou do Senado.

As bancadas dos partidos também se esforçarão para impedir que seus deputados e senadores sejam alvos de processos de cassação. É uma forma de o Congresso se proteger sem abrir mão do corporativismo.

Militância. A se aceitar a versão do governo de que os críticos à condução do País se dividem entre pessimistas e oposicionistas, fica a dúvida sobre a posição do banco central americano.

Se enquadrado na categoria dos pessimistas, não fica claro qual o interesse do negativismo. Classificados no grupo dos eleitoralmente engajados, ficam abertas as apostas sobre o número de eleitores dispostos a votar sob orientação de Mrs. Janet Yellen, presidente do Federal Reserve.

Leia o original deste post no site do Estadão

A bondade dos assassinos, por Gilherme Fiúza

O Brasil bonzinho assassinou o cinegrafista Santiago Andrade. Não foi outro o criminoso. Quem matou Santiago foi esse Brasil envernizado de bondade e infernizado de hipocrisia. Nenhum débil mental mascarado poderia ter matado Santiago sem a cumplicidade desse monstro.

candygun

A herança maldita da Primavera Burra foi apontada exaustivamente neste espaço. Os bem-pensantes e os demagogos — hoje praticamente indiscerníveis — continuaram matraqueando que os políticos precisavam ouvir “o recado das ruas”. Mentira. Não houve recado nenhum. Não há uma mísera mensagem aproveitável daquele carnaval cívico, onde multidões exuberantes marcharam contra tudo e contra nada — na mais patética perda de oportunidade política na era do Império do Oprimido.

É claro que esse heroísmo imaginário das passeatas não poderia acabar bem. Qualquer bando de almas penadas que fechava uma rua podia ser aplaudido pela sociedade engarrafada. “Desculpem o transtorno, estamos mudando o Brasil”, diziam os revolucionários de videogame. Mudando o Brasil para onde? Para o Afeganistão?

Ninguém perguntou. E a natureza não perdoa: onde não há luz, há treva. Rapidamente, o espaço sacralizado da revolução sem cabeça foi tomado pelo obscurantismo. E o Brasil começou a matar Santiago Andrade quando se permitiu ficar na dúvida sobre o que fazer diante dos boçais mascarados e seus chiliques medievais. Ou melhor: a parte mais bondosa e solidária desse Brasil não ficou na dúvida. Criou um movimento pela libertação dos detidos nas arruaças, black blocs e idiotas associados.

Deputados bonzinhos, intelectuais do bem e artistas antenados gritaram — alto — pela liberdade dos presos em manifestações. Não há artefato mais letal do que a bondade prenhe de ignorância e flacidez moral. E os comandantes da segurança pública, intoxicados pelo arrastão populista, passaram a declarar que “a polícia não está preparada para esse novo tipo de manifestação”. Um escárnio. A barbárie nunca foi tratada com tanto carinho.

Ora, o que se faz com criminosos que saem pelas ruas destruindo o patrimônio público e privado, sitiando cidadãos e atentando contra a sua integridade física? Prende-se. Depois processa-se, julga-se e condena-se. Com as leis que estão aí, com o aparato judicial e policial que está aí, sem um segundo de conversa fiada sobre novos tempos e nova boçalidade. Esse Brasil progressista que matou Santiago se permitiu hesitar diante da afronta ao estado de direito. Confundiu atentado com protesto, e resolveu (embora jamais vá confessar isso) relativizar a violência. Assassino.

Os criminosos que explodiram o crânio do cinegrafista foram identificados sem dificuldade, e estão presos. Mas eles mesmos e seus coleguinhas de terror se cansaram de protagonizar atos igualmente letais, fartamente filmados e fotografados — e puderam voltar tranquilamente para o Facebook e combinar o próximo programinha. Isso porque a sociedade civilizada cismou que não sabe combater “esse novo tipo de manifestação”. A mãe do sujeito que disparou contra Santiago, assustada, não sabia que tinha um criminoso em casa. O Brasil escondeu isso dela.

Quem se meteu a investigar os computadores dos covardes mascarados, chegando a deter alguns dos articuladores desse câncer, foi bombardeado pelos progressistas nas redes sociais. E lá ia o Brasil discutir se pode ou não pode condenar os facínoras ideológicos, deixando as mamães sem uma notícia decente de quem eram os seus pimpolhos homicidas.

Brasil, explique isso agora aos filhos de Santiago.

Não, ninguém vai explicar nada. Já estão chovendo teorias sobre o que é terrorismo, o que é black bloc, que reformas devem ser propostas ao Congresso Nacional (só rindo). Daqui a pouco o irrevogável Mercadante propõe um “plebiscito popular”, e o país volta tranquilamente à sua letargia assassina. Por falar em assassinato, os diplomatas do MST deixaram dez policiais gravemente feridos em Brasília. O Brasil está esperando um deles morrer para se horrorizar.

E o que aconteceu com os agressores? Foram recebidos em seguida por Dilma Rousseff no palácio, para um bate-papo de uma hora sobre reforma agrária. O que você está esperando para pegar sua borduna e ir atrás do que é seu?

Mas vá logo, porque o que é seu está sendo devorado rapidamente pelos amigos do povo — esses que a Primavera Burra não viu. Santiago morreu cobrindo um suposto protesto contra aumento das passagens de ônibus, e não se viu um único revolucionário ninja apontando sua revolta contra a usina de inflação do governo popular S.A. E Dilma pode ir ao aniversário do PT apoiar os mensaleiros presos — numa boa, sem nem um herói das ruas para vaiá-la na saída.

Santiago não teve sorte. Quem tem sorte no país dele é Delúbio Soares, que arrecada pela internet R$ 1 milhão em uma semana — livre de impostos e de covardes mascarados.

Video de delator desata crise e gera ameaça do comando black bloc

Um video postado há três dias no Youtube abriu uma crise no comando dos black bloc do Rio de Janeiro e suscitou ao menos uma grave ameaça velada por parte dos administradores da página dos BB’s no Facebook. O video foi postado por um homem que diz se chamar Clayton Carlos. Ele aparece usando uma máscara do Coringa em manifestações dos últimos meses em outros vídeos que estão em seu perfil no Youtube.

O denunciante se autointitula anarquista. Sem fazer uso de máscara, Clayton afirma ter conhecimento das relações entre políticos e black blocs e faz uma série de denúncias sobre a articulação de baderneiros profissionais arregimentados por parlamentares do PSOL, PT e PR para provocar tumulto e depredações.

De acordo com o Coringa, o PT patrocinou as ações do Movimento Passe Livre em meados de 2013. O ‘Ocupa Cabral’ teria sido sustentado pelo Sindipetro e pelo deputado e ex-governador Antony Garotinho. Os manifestantes aliciados teriam recebido lanche, transporte e R$ 150 reais. O mesmo teria acontecido no Protesto do Palácio das Laranjeiras, no leilão do Campo de Libra, nas ocupações (Ocupa Câmara, Ocupa Cabral) e nas manifestações dos professores durante a greve do ano passado.

Entre os políticos nominados por Clayton Carlos, o que figura em pior situação é o deputado Garotinho. “Teve gente  do Garotinho que pagou bombeiros , determinadas pessoas, para ficar no Ocupa Cabral”, assegura o denunciante. Entre os arruaceiros havia, segundo ele, um grupo de “profissionais” da baderna que recebia até 800 reais para lançar coquetéis molotov no ato das Laranjeiras. “Foi o assessor do Garotinho, o Nadir [quem pagou]. Ele esteve lá e bancou algumas pessoas para fazer  vandalismo.  Todos aqueles que jogaram molotov receberam do Garotinho”, afirma Clayton.

Ao longo dos 7 minutos e 25 segundo de duração do video, Coringa desvela outras relações entre black blocs e o mundo da política. Uma delas diz respeito ao esquema de assessoria judiciária montado para livrar os manifestantes presos durante as manifestações. “Tem juiz envolvido no meio. Juiz que solta. A OAB[RJ], ligada a Lindberg, tem advogados ativistas, advogados do PSOL e do PT para soltar manifestantes que fazem coisas erradas nos atos”.

Ameaça em rede

A página do black bloc RJ no Facebook qualificou as denúncias como covardia e traição sem, no entanto, rechaçá-las. “Ninguém tem o direito de expor a imagem de qualquer pessoa que esteja na luta sem provas”, afirmam os administradores do bbRJ.

Em seguida, os líderes dos mascarados fazem uma ameaça: “Pensam que não estamos de olho ? Se continuarem, medidas serão tomadas. Não passarão. Aguardem.Vamos expor todos os falsos manifestantes”, assevera a publicação, ainda que Clayton Coringa tenha revelado seu rosto e sua identidade na peça publicada no Youtube.

Captura de Tela 2014-02-15 às 09.55.19