Quarta reportagem da série O Avanço da Maconha. Mostra o que aconteceu em Denver, Colorado, depois da legalização da maconha. OS dispensários, os novos negócios, as dificuldades por causa da proibição em nível federal. Veiculada em 10/4/2014.
Author: Fábio Pannunzio
Série O Avanço da Maconha: a descriminalização uruguaia
No terceiro episódio da série de reportagens O Avanço da Maconha, o Jornal da Band discorre sobre o que mudou no Uruguai a partir da aprovação da lei que, na prática, libera o consumo e a venda de maconha naquele País. Matéria veiculada em 9 de abril de 2014.
A luta dos pacientes pelos medicamentos de maconha
Pacientes brasileiros de esclerose múltipla, formas graves de epilepsia, portadores de câncer em quimioterapia, de glaucoma e pessoas que sofrem de dores miálgicas travam uma luta contra o preconceito secular para ter acesso a medicamentos produzidos a partir da cannabis que já são utilizados em praticamente todo o mundo.
Tratamentos com derivados da maconha, especialmente o cannabidiol (CBD), têm demonstrado inequívoca eficiência no controle dessas doenças e na mitigação de sintomas como as dores de origem nervosa. Apesar disso, apenas uma paciente brasileira, uma criança chamada Anny, de Brasília, conseguiu até agora obter autorização judicial para usar legalmente o CBD. De acordo com a família de Anny, a administração da droga reduziu de 60 para zero o número de convulsões que a criança sofria.
A reportagem exibida nesta terça-feira pelo Jornal da Band coloca em discussão a proibição que ainda impede os brasileiros de fazer uso dos benefícios dessa planta, que permanece classificada pela ANVISA como droga deletéria, comparável à heroína, e sem interesse científico — o que, na prática, impossibilita ou dificulta ao máximo as pesquisas médico-farmacológicas dos canabinóides.
Nesse capítulo da série você vai conhecer a luta de Dhalia, 3 anos (foto à esquerda), para vencer um tumor cerebral. Para conseguir fazer o tratamento, a família se mudou de Tampa, na Flórida, para Peyton, a 150 de Denver, no Colorado. E vários outros personagens brasileiros que, para fazer seus tratamentos, precisam ir às biqueiras e bocas-de-fumo para comprar a erva de traficantes.
Depois de assistir, por favor, deixe registrada a sua opinião na área de comentários do blog.
Maconha: por que ainda é proibida ?
O Jornal da Band está veiculando, desde ontem, uma série de reportagens sobre a maconha que eu e o Victor Santos produzimos nos últimos dois meses. Sem nenhuma modéstia, quero recomendar a você que assista a esse material. Nunca a TV brasileira discutiu o problema com tanta profundidade.
Para dar cabo da tarefa, estive duas vezes no Uruguai e uma no Colorado, EUA. Fui conhecer pessoalmente os lugares em que a erva foi liberada. E fui atrás das consequências da regulação e descriminalização. Ao final, pude constatar quanto o preconceito, a desinformação e as mentiras sistemáticas podem fazer pela demonização de algo que pode ser efetivamente bom para a própria humanidade, desde que utilizado da maneira correta.
O primeiro capítulo trata da história da proibição, mostra como a legislação (elaborada em 2006) está carregada de ranços raciais. Para assistí-lo, basta clicar sobre o video acima. Agradeço se você deixar a sua opinião sobre o problema aí na área de comentários da página.
Mino Carta diz que vai processar quem remexer seu passado profissional
“De minha parte, estou farto de ataques: a partir de agora, processarei os caluniadores”. Com essa frase, Mino Carta, dono da revista Carta Capital, abre o último parágrafo de um texto em que, mais uma vez ,tenta se livrar da responsabilidade por textos que escreveu e orientou em Veja durante o início do seu potentado como diretor de jornalismo.
No texto, escrito em resposta a um artigo do Professor Demétrio Magnoli, Carta se gaba de ter mais autonomia sobre a o conteúdo da revista do que seus donos: “Eu gozava de notável autonomia: os donos da casa não tinham acesso à pauta e saberiam de cada edição depois da publicação, na manhã das segundas”. Mas se esquiva de toda a responsabilidade pelo apoio deslavado que a publicação, sob sua excelsa gestão, emprestou não apenas ao golpe, mas também a algumas ações do DOI-CODI e até à famigerada OBAN.
Na réplica a Magnoli, Carta, como de costume, põe o ponto inicial da história no período que se seguiu à eleição de Geisel, de 74 em diante, quando de fato Veja inicia um movimento de distanciamento do governo dos generais. Sobre tudo o que se passou no período mais obscuro e cruento da ditadura militar, Mino Carta se cala para não ter que explicar as loas que ele e a Revista Veja teceram ao regime.
A reportagem sobre a tortura que ele cita como prova de sua independência — e até mesmo repulsa — dos generais é, na verdade, um exercício explícito de sabujice. Não era a revista denunciando. Era Veja dizendo que Geisel não aceitava a tortura. Não era uma matéria sobre a tortura. Era uma matéria enaltecendo o ditador. Ainda assim, falava sobre a tortura, como de resto falavam jornais como o Estadão, que já haviam revisto sua posição explícita de apoio ao golpe em 1964.
Em sua ode a si mesmo, Carta transforma submissão em astúcia e audácia para explicar os afagos explícitos ao penúltimo general-presidente: “Tratado, porém, de forma que pretendíamos astuta, o terceiro ditador. Baseados no tom moderado do seu pronunciamento de recém-empossado, logo saímos com uma capa de chamada positiva, “O presidente não admite tortura”. Antes que uma informação, era ilação audaciosa””.
Mino Carta diz que vai processar “caluniadores” que revirarem seus textos. Aquele período da história que transcorreu entre 1964 e 1969 simplesmente não existiu na biografia do homem que se pretende o Gutemberg da ‘mídia nativa’. Escrever sobre o que ele escreveu, como fez Magnoli — e como eu mesmo fiz no começo dessa polêmica — pode transformar um escriba de boa-fé em caluniador.
Ofereço a Mino Carta este texto como matéria-prima para sua investida judicial contra os ‘detratores’ de sua biografia. Não creio que ele irá adiante na empreitada porque é ridiculamente fácil provar que Mino escreveu o que escreveu. Embora ele negue, está tudo no arquivo digital de Veja, que é público e está à disposição de todos — até dele próprio, Mino Carta, que bem poderia nos ajudar a encontrar qualquer texto de sua lavra com críticas à ditadura militar brasileira anterior à reportagem sobre a tortura .
Mino não as fez porque, como boa parte da imprensa brasileira, mudou ao longo do tempo. Enquanto os chamados ‘jornalões’ já fizeram a sua autocrítica — aliás, tão criticadas pelo ex-editor de Veja — falta a Mino grandeza para fazer o mesmo: pedir desculpas pelo que escreveu quando o Brasil mergulhava no período mais obscuro de sua história recente.
Mas não creio que Mino Carta irá fazê-lo. Porque dispõe de um pequeno exército de funcionários par defendê-lo, funcionários que, como ele mesmo diz, “chamam patrão de colega”. Não creio porque ele jamais admitiu que prestou todo tipo de apoio a Orestes Quércia, um dos mais notórios corruptos pós-64.
Não creio porque, de resto, Mino Carta continua manipulando fatos, expurgando do noticiário o que não lhe convém ou não interessa a seus patrocinadores (oficiais, quase todos). Quer um exemplo disso ? Fácil! Entre no site de Carta Capital e procure alguma coisa sobre André Vargas, o petista salafrário que se associou ao pior da burocracia e a uma rede de lavadores de dinheiro sujo para roubar o contribuinte. Não há nada, nenhuma menção ao larápio que dominou o noticiário brasileiro esta semana. Por que será ?
Para que não digam que sou injusto na crítica, há um único registro, um ‘esforço de apuração’ materializado numa referência à reportagem de capa de Época neste fim-de-semana. Só isso. É assim que se faz o jornalismo com ‘controle social’ da mídia.
Agora, que venha o processo!
Eu sei o que você escreveu ontem, por Demétrio Magnoli
“Os senhores escravocratas do século 21 ainda se movem ao sabor das crenças de 50 anos atrás (…)”, escreveu Mino Carta na revista “CartaCapital” do dia 2/4, para concluir: “Daí a oposição sistemática aos governos Lula e Dilma”. Na política, o passado é uma massa de modelagem sempre disponível para servir aos interesses do presente. Sugerir que os críticos do lulismo são reencarnações dos golpistas de 1964 já se tornou um clássico da “imprensa” chapa-branca. Quando, porém, a fábula emana do teclado de Carta, um cheiro de queimado espalha-se no ar.
Nos idos de 1970, Carta ocupava o cargo de diretor de Redação da revista “Veja” e assinava os editoriais com suas iniciais. O que M.C. escreveu em 1º de abril de 1970, sexto aniversário do golpe, está no acervo digital da revista:
“Propostos como solução natural para recompor a situação turbulenta do Brasil de João Goulart, os militares surgiram como o único antídoto de seguro efeito contra a subversão e a corrupção (…). Mas, assumido o poder, com a relutância de quem cultiva tradições e vocações legalistas, eles tiveram de admitir a sua condição de alternativa única. E, enquanto cuidavam de pôr a casa em ordem, tiveram de começar a preparar o país, a pátria amada, para sair da sua humilhante condição de subdesenvolvido. Perceberam que havia outras tarefas, além do combate à subversão e à corrupção –e pensaram no futuro.” Fofo?
Enquanto Paulo Malhães lançava corpos em rios, M.C. batia bumbo para Médici. A censura não tem culpa: os censores proibiam certos textos, mas nunca obrigaram a escrever algo. Os proprietários da Abril não têm culpa (ou melhor, são culpados apenas pela seleção do diretor de Redação): segundo depoimento (nesse caso, insuspeito) de um antigo editor da revista e admirador do chefe, hoje convertido, como ele, ao lulismo, Carta dispunha de tal autonomia que os Civita só ficavam sabendo do conteúdo da “Veja” depois de completada a impressão.
Carta foi quercista quando Orestes Quércia tinha poder (e manejava verbas publicitárias). Hoje, é lulo-dilmista até o fundo da alma. Na democracia, não é grave ter preferências político-partidárias, mesmo se essas (mutáveis) inclinações tendem quase sempre na direção do poder de turno. Mas aquilo era abril de 1970, bolas! As máquinas da tortura operavam a plena carga –algo perfeitamente conhecido, não pelo povo, mas por toda a imprensa. A bajulação condoreira a Médici não deve ser qualificada como um equívoco de avaliação: era outra coisa, que prefiro não nomear.
“CartaCapital” de 2 de abril publicou, também, um ensaio histórico sobre as relações entre a imprensa e a ditadura no qual –surpresa!– não há menção aos editoriais da “Veja” assinados por M.C. em 1970. A revista de Carta faz coro com os arautos do “controle social da mídia”, eufemismo de censura em tempos de democracia. Cada um a seu modo, os grandes jornais acertaram as contas com o próprio passado, oferecendo desculpas (“O Globo”), reconhecendo erros (Folha) ou produzindo revisões circunstanciadas (“Estadão”). Carta optou por um caminho diferente: a camuflagem.
O artigo de Carta na “CartaCapital” é uma catilinária contra os “reacionários nativos” que, “instalados solidamente na casa-grande” e “com a colaboração dos editorialistas dos jornalões”, perpetraram o golpe de 1964. De tão santa e barulhenta, a indignação editorializada induzirá algum desavisado leitor estrangeiro a imaginar que o autor denuncia, corajosamente, um golpe militar em 2014. Mas, no fim, é mesmo do presente que trata o grito rouco, o adjetivo sonante e o chavão escandido: por meio dessas técnicas, Mino Carta esconde M.C.
Acervos digitais são uma dessas maravilhas paridas pela revolução da informação. A França do pós-guerra não tinha algo assim, para sorte dos colaboracionistas de Vichy. O Brasil de hoje tem. Sorte nossa.
Demétrio Magnoli, doutor em geografia humana, é especialista em política internacional. Escreveu, entre outros livros, ‘Gota de Sangue – História do Pensamento Racial’ (ed. Contexto) e ‘O Leviatã Desafiado’ (ed. Record). Escreve aos sábados na Folha de São Paulo (clique aqui ara ler o link no endereço original.
O petralha do doleiro
A história recente está cheia de gatunos petistas apanhados com a mão na botija do erário. Gente insidiosa, que justifica seus achaques com a moral do guerrilheiro. A despeito de estarem no poder — esse André Vargas é vice-presidente da Câmara Federal — atuam nos bastidores para desmoralizar o Estado e o governo que integram.
Pois bem. André Vargas, o indecente, aquele que tem coragem suficiente para um gesto de desagravo dos mensaleiros em face do juiz que os mandou para o xilindró, é também boy de luxo do doleiro que lava o dinheiro de dez entre dez corruptos do País. E não apenas isso: é um espécie de desbravador do lobby dos canalhas que do que é público só querem a oportunidade da tunga.
Ninguém pode se empenhar tanto na defesa de bandidos com trânsito em julgado sem equiparar-se a eles no seu psiquismo. O pai cujo filho é pego traficando drogas não provoca o juiz que condenou seu rebento depois de prolatada a sentença. A mãe cuja filha foi flagrada explodindo caixas eletrônicos não se insurge contra o delegado que a prendeu em ação delitiva.
Mas André Vargas provocou ao extremo, com descortesia e soberba, o juiz que mandou seus colegas e líderes para o calabouço da Papuda. Por que tanto empenho ? Tenho um palpite: sabedor do que tem feito na intimidade da alcova, talvez esse deputado de moral tão frágil tema o ‘pegar’ da moda e tenha sido acometido por alguma antevisão aterradora de seu próprio futuro.
O que está certo num País de tantas coisas erradas é que é preciso e urgente separar políticos de ladrões. Ladrões são aqueles que tomam de assalto a política para se locupletar. Grassam em todos os partidos, mas concentram-se especialmente em legendas já testadas como cafofo de outros ladrões investidos de mandato. Ali encontram abrigo, proteção e uma equipe incrível para assessorá-los na consecução de seus golpes.
Políticos, numa democracia, são aqueles que se valem de mandato popular para trabalhar em benefício da coletividade. Se você quiser saber onde encontrar um deles, o caminho é facílimo. Vá até o Aeroporto de Cumbica, tome um avião para Montevideo. Voe duas horas e meia. Depois de aterrissar e passar pelos trâmites alfandegários, procure por um senhor chamado José Mujica, mais conhecido como Pepe Mujica.
Perdeu, Mané!
Sabe o que tanto irrita o brasileiro médio no PT ? É essa mania crônica de alguns petistas de acharem que estão acima de tudo — da lei, da ordem, do Congresso, do Judiciário…
Onde quer que estejam, esses petistas têm um efeito corrosivo sobre as instituições. Do alto de um ministério ao inferno de uma penitenciária, lá estão eles, burlando as regras e bagunçando tudo. Como se fossem ainda guerrilheiros combatendo o sistema e o regime — mesmo onde eles são o próprio o Poder.
Na chefia da poderosa Casa Civil, José Dirceu inventou o Mensalão para amealhar o dinheiro que iria desmoralizar o Congresso. Mobilizou o PT, sujou a ficha da legenda e provocou uma guinada à direita que levou seu partido a fazer par, na galeria da história, com o finado PFL e o muito vivo PMDB, que antes eram os senhores absolutos do fisiologismo.
Agora na Papuda, os privilégios distribuídos à manada mensaleira pelo guarda-mór do presídio, o governador Agnelo Queiroz, deixam claro que eles não se vergam. Onde houver uma sinecura, ela será manietada por um petista espertalhão. Não importa que não haja comissões a amealhar, esquemas dos quais partilhar, um VISANET com o qual se locupletar. Pode ser uma refeição diferenciada, uma visita escondida, o que estiver ao alcance da mão.
Se há normas estabelecidas, há um gatuno petista pronto para desmoralizá-las. Se há uma boquinha a ser apropriada, idem ibidem. E se o chato de plantão é também um petista, não tem problema. Para estes, há um estratagema muito bem sucedido já testado em casos renitentes como o do prefeito Celso Daniel.
No futuro, esses caras serão lembrados como os vendilhões do erário, como aqueles que saíram dos sindicatos sedentos pelo butim e não mediram esforços para fazer a pilhagem antes mesmo de sacramentar a conquista. E comeram tanto melado que lambuzaram sua existência para sempre.
Para eles não existe um “perdeu, Mané!”. Eles não perdem nunca. Estão sempre ganhando, seja qual for o contexto. Ganham nas licitações, nos contratos, nas indicações, nos conchavos. Não importa o que se ganha, o importante é ganhar sempre. Ganham até quando perdem. Não tendo muito a ganhar, ganham qualquer coisa: o carro estacionado no pátio do presídio, o emprego de fachada oferecido por um laranja panamenho ou uma central sindical… Como diria o filósofo Gérson, “o importante é levar vantagem em tudo, certo ?”
Errado!
Afinal, eles estão presos, foram condenados por uma corte sequiosa por absolvê-los. A despeito de todos os privilégios, seria muito melhor estarem soltos do que engaiolados, pleiteando vantagens que só se podem auferir no porão da masmorra. Ainda que doce e leve por conta de favores sem-fim, a Papuda é o que é: um presídio.
Existe alguma vantagem real nisso ? Se existe, não é para esses bobões que estão confinados. É para os outros, que andam livres por aí, camelando e palestrando sobre as vantagens de se ter bons amigos que aceitam pagar penas em seu lugar para que os mais espertos triunfem.
Não importa que busquem — e encontrem — lucro na refeição diferenciada, no emprego fictício para enganar o juiz das execuções, no carro estacionado na pátio do presídio. São vantagens relativas ao ambiente onde tais conquistas se dão. Não são vantagens reais nem podem se sobrepor ao gozo da liberdade como um valor absoluto.
Ainda que fiquem pouco tempo, ainda que estejam confortavelmente instalados na cadeia, eles jamais poderão apagar essa mácula de sua biografia. “Perdeu, Mané!”, foi o que a sociedade brasileira disse a cada um dos mensaleiros enjaulados em Brasília.
Conformem-se, pois!
Gestão temerária, por Rogério Furquim Werneck
A probabilidade de que um racionamento de energia elétrica se faça necessário tornou-se preocupantemente alta. E vem aumentando a cada dia.
Mas o governo insiste em fingir que o problema não existe. Recusa-se a tomar medidas preventivas que, se adotadas a tempo, poderiam reduzir substancialmente o risco de ocorrência de um quadro mais grave de insuficiência de oferta de energia.
A seis meses e meio das eleições, o Planalto teme, com certa dose de razão, que o reconhecimento pelo governo de que o país está à beira de um racionamento possa ter efeito devastador sobre o projeto da reeleição. Prefere jogar com a sorte.
Boa parte da mistificação que se construiu em torno das supostas qualidades de Dilma Rousseff como administradora está relacionada ao setor elétrico. E ao papel central que a presidente desempenhou, ao longo dos três últimos governos, na condução da política energética.
Tendo feito e desfeito o que bem entendeu no setor elétrico por mais de 11 anos, a presidente não tem hoje a quem repassar a culpa pela precariedade da oferta de energia que se vê no país.
Clique aqui para ler a íntegra no Blog do Noblat
Busão da Lucélia. Ou: o bonde errado da classe média
Demorei para entender o que foi que aconteceu com a Lucélia Santos. Depois minha filha simplificou para mim: ela pegou um ônibus. Deu o maior bafafá!
Nossa! Um ônibus ?
No Brasil, rico dentro de ônibus dá manchete de jornal. Atriz da Globo vira trending topic no Twitter.
Olha só que descompasso. O sujeito que está ‘causando’ hoje em dia no planeta vive numa choupana de 45 metros quadrados coberta com chapas de alumínio. Ganhou a vida plantando rosas num mini-minifúndio de 14 hectares compartilhado com mais três famílias. Tem um cachorro de três patas. Veste uma roupa surrada. Anda de sandália de dedo.
Não é Jesus Cristo, não, irmã. Eu continuo um ateu incorrigível. Amém ?
Também não é a reencarnação de Diógenes porque ele tem um bem material: um Fusca 87 mexicano. Com 52 mil quilômetros rodados desde zero.
A mulher faz conserva de tomates fermentados no verão. Produz para o ano inteiro. Planta, poda, aduba, irriga flores. Pilota um trator. Também faz doces em calda. E o almoço quase todo dia. Apesar de ser a principal senadora da República Oriental do Uruguai.
O nome dela é Lúcia Topolansky. Micro-agricultora, senadora, primeira-dama. Tudo ao mesmo tempo.
O marido dela se chama Pepe Mujica. É o sujeito que em três anos regulou a maconha, legalizou o aborto e regulamentou o casamento homoafetivo em seu país. É mole ?
Pois se vivesse no Brasil, iriam acusar Mujica de soberba por sua humildade. O Sócrates da opinião pública para o Antístenes da política, numa das passagens da filosofia que o Fernando Mitre mais gosta: “Vejo seu orgulho pelos buracos da sua veste!”. E jamais iria conseguir se eleger presidente. As pessoas têm raiva dos comportamentos mais simples. Preferem fumar maconha escondido, fazer aborto com parteiras e permanecer no armário a salvo da ira social a aturar um riquinho esquisito metido a pobre.
Eu mesmo recebi uma série de reprimendas quando passei a andar de Metrô no ano passado. De uma hora e meia, passei a gastar apenas 35 minutos para chegar ao Morumbi, onde fica a sede da Band. Alguns amigos disseram que eu sou um sujeito esquisito demais. Para não entrar no transporte público, jogam fora duas horas de convivência diária com os filhos, ou de pura curtição dos prazeres da vida.
Bom mesmo é presidente que sai do chão de fábrica e, de cara, compra um avião. Que do começo ao fim do mandato nunca, jamais, em hipótese alguma faz o que a atriz global fez: pegar um busão. Se pegasse, uma vez que fosse, talvez tivéssemos menos susto quando alguém da classe média deixa o carro blindado em casa. E um transporte público que não fosse o lixo que é.
Da próxima vez que encontrarem Lucélia Santos num ônibus, apedrejem ela. Seu comportamento insidioso pode gerar réplicas sociais indesejáveis num país em que pequeno burguês já nasceu Napoleão Bonaparte. E tem ojeriza de pobre e de rico metido a pobre. Esse pessoal que come peru e arrota angu.
Começa assim. Rico andando de ônibus. Sei. No Brasil.
Daqui a pouco pega uma balaclava e vai protestar contra os vinte centavos.