Cai o último processo criminal contra meu blog

A juíza Suzana Jorge de Mattia Hirata, da Primeira Vara Criminal de Santana, acaba de enviar para o lixo, ou melhor, para o arquivo o último processo criminal que tinha por objetivo punir meu blog pela divulgação de informações verídicas, pertinentes, rigorosamente checadas e apuradas sobre a área da Segurança Pública do tucano Geraldo Alckmin.

O autor da queixa-crime era o Coronel Telhada, ex-comandante da ROTA que teve seu nome citado em relatórios do setor de inteligência da Polícia Civil de São Paulo. As acusações que constavam desses relatórios, conhecidos pela sigla RELINT, eram graves e jamais foram investigadas. O assunto foi levantado pelo meu amigo e colega Sandro Barboza. O Blog, depois de novamente apurá-las, reproduziu e ampliou as denúncias.

Éramos réus eu, o Sandro e o Fernando Mitre. Em conformidade com a posição do Ministério Público, a juíza entendeu que não houve em nenhum momento a intenção de atingir a honra do ex-comandante da ROTA. O ânimo, na decisão justa e acertada da juíza Suzana Hirata, foi o de pedir a investigação das denúncias que constavam dos RELINTs.

Antes de colocar um ponto final neste post, quero dizer aos antidemocratas que buscam a censura pela via judicial que são inócuas suas tentativas de constranger jornalistas dessa forma. Com este, são dez os processos que fui obrigado a responder nos últimos três anos, resultando deles a minha absolvição em todas as instâncias em que transitaram.

Fique claro que, assim como não tememos sua soberba, suas milícias e suas ameaças também não tememos a toga. Portanto, simplesmente não adianta tentar calar a nossa boca. As razões estão expostas abaixo, no trecho do relatório produzido pelo MP e endossado pela juíza que presidiu o processo.

Até a próxima, Telhadas et caterva!

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Herança maldita: a quem compete administrar

Você já ouvir falar no Conde D’Abranhos ? É o personagem central do livro homônimo de Eça de Queirós. Um político carreirista e sem personalidade, que vai do governo à oposição desde que isso lhe traga vantagens pessoais.

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O Conde é um português que viveu ao tempo das guerras napoleônicas. Filho de uma família pobre do interior, renega os pais e vai para Lisboa a fim de fazer carreira. Casa-se com a filha de um desembargador rico e poderoso e acaba, por obra de uma engenharia tipicamente luso-brasileira (os vícios, ah os vícios!..), se transformando num medíocre ministro de Estado.

Nada que o governo Dilma Rousseff não supere a cada reforma ministerial. O governo brasileiro está cheio de Condes D’Abranhos — gente que não tem ideia do que faz, não sabe nada dos assuntos da pasta que governa nem tem familiaridade com o Bem Comum ou o sagrado Interesse Público (repare que eu grafei com maiúsculas).

O Conde de Eça de Queirós se tornou famoso por não conhecer os contornos geográficos do Império português ainda um ano e meio depois de empossado Ministro da Marinha. Foi aí, 18 meses depois de se tornar ministro, que ele descobriu em que mar ficava o Timor. Mas era Portugal, e não havia sido inventado ainda o Google…

Certa vez, ao discursar na tribuna, afirmou, e foi prontamente contestado por colegas da oposição, que Moçambique ficava na Costa Ocidental do continente africano. Ao perceber o vexame, saiu-se com a seguinte resposta:

– Que fique na costa ocidental ou na costa oriental, nada tira a que seja verdadeira a doutrina que estabeleço. Os regulamentos não mudam com as latitudes!

Eduardo Braga, ministro dos apagões petistas, deve ser uma reencarnação tardia do Conde D’Abranhos. Não é crível que uma autoridade do porte dele fale publicamente as besteiras quase impublicáveis que tem dito sobre a crise energética. Não por acaso, essa verdadeira Magda de terno e gravata toma um esporro por dia da colérica Dilma Rousseff, que também, convenhamos, não é nenhum gênio.

Aldo Rebelo, que veio do esporte para a pasta da “inovação”, tem um projeto de lei — devidamente destinado ao arquivo — contra o uso da tecnologia. Pode isso ? Pois acredite, é verdade. É o PL 4502, de 1994 (clique aqui para ver). Na ementa está escrito: “Proíbe a adoção, pelos órgãos públicos, de inovação tecnológica poupadora de mão-de-obra”.

Aldo é um caso de reincidência reacionária renitente. Ele já tentou misturar fécula de mandioca à farinha de trigo (antes da onda glúten-free), proibir catracas eletrônicas em ônibus urbanos e é o responsável por não termos postos de gasolina self-service, como é no mundo todo. O título da pasta que ele ocupa é Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Boa escolha, Presidenta. Um apóstata da tecnologia para cuidar da inovação.

É com este arsenal humano que a Presidenta (eu costumo grafar essa palavra com letra maiúscula porque, como ela formalmente não existe, e por designar algo único no planeta,  deve ser tratada como um substantivo próprio) arregimentou para debelar as crises que ela mesma  provocou no mandato anterior .

Sorte têm os ilustres senhores citados neste post de eu não ter optado por Machado de Assis para construir minhas ilustrações literárias. Em vez do Conde D’Abranhos, eu poderia ter me valido de Simão Bacamarte, o Alienista, e comparado o Palácio do Planalto com a Casa Verde de Itaguaí.

Talvez fosse até mais adequado.

Mas isso fica para uma outra oportunidade.

 

 

 

Um ‘viva’ miudinho para a ANVISA, que liberou tardiamente o CBD

Com anos de atraso, a diretoria da ANVISA liberou finalmente a prescrição médica do canabidiol, remédio extraído da flor da maconha. Se não fosse tão lerda e paquidérmica, a agência poderia ter adotado a mesma providência há mais de um ano, poupando pacientes que sofrem com tipos raros de epilepsia e outras doenças ainda sem cura pelos quimioterápicos convencionais.

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Foi apenas o primeiro passo de uma longa jornada que ainda está por vir. O THC, molécula que provoca o efeito psicoativo da Cannabis, também pode ser aplicado em uma ampla gama de quadros clínicos que a farmacologia atual não consegue resolver a contento.

Seus efeitos anti-eméticos (contra ânsia de vômito), por exemplo, são conhecidos há séculos e estão provados por vários estudos científicos de instituições importantes ao redor do planeta. Fumar um baseado ou comer um brigadeiro de maconha pode ajudar e muito a dar conforto a portadores de câncer em quimioterapia.

A partir de agora, quem precisar do canabidiol para se tratar fica autorizado a importar o CBD. Uma ampola chega a custa R$ 1,5 mil. É caro demais para a média das famílias brasileiras. Com isso, muitos pacientes que se poderiam se beneficiar do composto não terão acesso a ele.

Como o cultivo de maconha e a comercialização de seus extratos continuam proibidos pela nossa arcaica legislação penal, ninguém poderá produzir o principal insumo para a fabricação do CBD no País. Ainda que o canabidiol derive de uma variedade que não sintetiza o THC — portanto, não produz o barato característico dessa planta.

É sabido que a sociedade rejeita a legalização da maconha, o que permitiria seu uso diversional e reduziria ao mínimo o narcotráfico. Governos que se prezam tomam a iniciativa e arcam com os custos da adoção de políticas que somente serão melhor compreendidas e aceitas no futuro. É o caso do Uruguai e de Portugal.

Não é, definitivamente, o caso do Brasil. Num País de governo populista, presidentes ateus viram carolas, notórios boêmios viram anjos de candura e todas as iniciativas que dependem de alguma coragem realmente revolucionária são destinadas à gaveta e ao esquecimento.

A despeito de tudo isso, a atual diretoria da ANVISA — lerda, errática, medrosa — merece um cumprimento por ter feito o que finalmente fez, ainda que tenha sido guindada a isso pela soma de evidências que a ciência fornece para a opinião pública leiga fazer a burocracia deslizar pelo trilho que leva à contemporaneidade.

Quer ganhar uma albarda ? Participe do sorteio do Blog

O blog Acta Diurna está promovendo o sorteio de uma albarda para brasileiros crédulos que sufragaram tanto Geraldo Alckmin quanto Dilma Rousseff nas últimas eleições.

A inscrição é facílima. Basta construir, aí na área de comentários, um texto que comece com a frase “Eu votei em Dilma Rousseff e Geraldo Alckmin porque acreditei que…”. Ao final do texto, o candidato (à albarda) deverá colocar a seguinte frase: “… É por estas razões que acho que mereço a albarda”.

albarda

O regulamento é muito simples. Aqui vai um exemplo de texto competitivo (infelizmente, não vale apresentá-lo como se fossem de sua autoria):

– “Eu votei em Dilma Rousseff e Geraldo Alckmin porque acreditei que não havia racionamento em São Paulo e que a economia do País não seria entregue a um banqueiro. É por estas razões que acho que mereço a albarda”.

A inspiração para o concurso nasceu da minha surpresa ao ver Geraldo Alckmin dizendo nos telejornais que “é claro que há racionamento de água em São Paulo!”. Assim mesmo, com ponto de exclamação e tudo mais. Soou como se Dilma Rousseff dissesse, numa quebra-queixo com repórteres: “É claro que existe corrupção no governo!…”

Antes de se inscrever, certifique-se apenas de que você sabe exatamente o que significa ser o portador de uma albarda.

Boa sorte!

Blogueira censurada vira xerife anticorrupção em MT

Adriana Vandoni, economista por formação acadêmica, jornalista por devoção, blogueira porque não lhe sobrou espaço na mídia em seu estado será, a partir de janeiro, a xerife anticorrupção em Mato Grosso, que desde sempre vem sendo assaltado por políticos da qualidade de um José Geraldo Riva, o maior ficha-suja do Brasil. A nomeação, anunciada pelo futuro governador Pedro Taques, marca uma reviravolta histórica na sina mato-grossense, que os políticos locais tratam como um grotão de desabrido patrimonialismo.

adrianavandoni

Adriana é de uma honestidade inquestionável. Sua luta contra as quadrilhas que assaltam MT lhe valeu pesadas sanções obtidas de juízes suspeitos que mantinham relações completamente anômalas com os poderosos de turno. Ainda hoje, às vésperas de assumir o futuro gabinete de Transparência e Combate à Corrupção, ela se encontra censurada, impedida judicialmente de escrever sobre a lambança de Riva, Humberto Bosaipo e outros larápios que durante décadas assaltaram os cofres daquela desvalida unidade da federação.

O cerco político-judicial que se armou contra ela foi tão forte que Adriana Vandoni teve que se valer de uma ‘permuta de censura’, criada juntamente com este blogueiro, à época também sob censura, para escoar o material que seu blog, Prosa e Política, produzia em Cuiabá. Eu publicava no Blog do Pannunzio o que ela estava impedida de levar ao ar em sua página na internet, ela fazia o mesmo por mim. Assim pudemos seguir denunciando os malfeitores que nos assolavam com suas iniciativas censórias. A iniciativa valeu quatro processos do atrabiliário José Geraldo Riva contra mim e outros tantos contra ela própria.

O incrível é que, ao tomar posse como a grande corregedora da lisura dos negócios públicos em Mato Grosso, Adriana Vandoni ainda vai estar sob censura judicial, impedida de escrever na internet sobre e pelos ladrões que sempre denunciou. Ou seja: não vai poder escrever como blogueira sobre os atos que produzir como secretária de estado.

Quero dar os parabéns ao futuro governador Pedro Taques pela nomeação e desejar sorte a Adriana Vandoni no árduo trabalho que terá para desratizar o Palácio do Paiaguás. Já começa mandando muito bem, governador.

Aos corruptos que a censuraram, desejo vida longa para fruir os resultados desse trabalho. E doses cavalares de lexotan para suportar a angústia e o pavor que já devem ter se instalado entre o Nortão e a capital Cuiabá.

BESTA e MST se juntam para pregar o golpe

Cortaram os neurolépticos da ração da BESTA (Blogosfera Estatal) ? Acabou o suprimento de Carbolitium ? A teoria da conspiração agora é a conspiração da teoria. Até o Tóffoli — coitado! — virou agente do golpe tucano-coxinhista. Vai para o Gullag quando essa antevisão do inferno se concretizar. E em conluio com quem ? Gilmar Mendes!!!!! Pelamordedeus!!!!!!

O golpe da BESTA: terror do MST para alimentar manches terroristas da petralhada.
O golpe da BESTA: terror do MST para alimentar manches terroristas da petralhada.

Veja só o clima que essa galera pretende criar. Fica cada dia mais evidente que a democracia, para os mercenários midiáticos da BESTA, é apenas uma tática. Que se suprime caso os donos da bola percebam qualquer ameaça de ter  sua malfeitoria desvendada.

O que eles fazem é ameaçar o País para tentar fazer parar as investigações na PETROBRAS. Estão usando o terror para assustar as pessoas. Antes que os vazamentos resvalem neles próprios mais do que já resvalaram. E que seus chefes  se defrontem com a perspectiva do impedimento — não pelas mãos da conexão Mendes-Tóffli, mas ao cabo de um processo cujo conteúdo probatório vem sendo impecavelmente construído pelo juiz Moro .

Nada ameaça mais a democracia do que esses terroristas midiáticos. Para nossa sorte — nossa, dos demais brasileiros, aqueles que têm que trabalhar honestamente para sobreviver — são meia dúzia e não têm a menor credibilidade. Se fossem mais numerosos e menos apegados ao jabaculê, talvez fossem motivo de preocupação. Mas não são. A democracia brasileira vai sobreviver, ainda que o País tenha que enfrentar de novo o processo que já culminou com a deposição de Collor.

 

Fique tranquilo, Dilma não estatizou a imprensa

Não é função de presidente da República dizer o que a imprensa tem ou não tem que fazer. Afinal, vivemos em uma democracia e a liberdade de imprensa é cláusula pétrea da Constituição da República. Essa não é uma garantia para a mídia, ou para os ‘da mídia’. É um uma garantia que o Estado dá ao cidadão de que ele será informado de tudo. Inclusive de arroubos autoritários como esse  último de Dilma Rousseff, que não quer que jornalistas investiguem.

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Investiguem o que ?  A roubalheira instalada no governo, na Petrobras, onde a propina milionária corria solta. São coisas que os partidos da base aliada não gostam de ver publicadas por sua crônica condição de protagonistas da malfeitoria. Se não fosse pelos jornais e revistas, a presidente jamais teia tomado ciência do que se passa no seu próprio quintal. Em vez de se irritar, ela deveria agradecer a esses veículos por terem tornado acessível a informação que ela própria desconhecia.

Se a imprensa não tivesse por função investigar, como quer a nossa presidente, Watergate jamais teria ocorrido. Nixon não teria renunciado. Collor não teria sido cassado. A cúpula do PT também não teria sido recolhida ao xilindró.

Como se vê por esses poucos exemplos, quando a imprensa investiga, a sociedade purga o que está errado e avança. É assim mesmo que tem que ser. É bom para o processo político e para a história, ainda que seja muito ruim para agremiações como as que dão sustentação e suporte ao projeto político do atual governo.

A antipatia dos governantes pela imprensa é tão antiga quanto a própria imprensa. A vontade explícita de delimitar o espaço de atuação da imprensa não  constitui nenhuma novidade. Mas a obsessão lulopetista pelo controle dos conteúdos, que eles chamam de ‘controle social’ ou ‘democratização’ da mídia, chega a ser doentia.

É preciso ressaltar aqui que, em relação à liberdade de imprensa, a presidente, apesar de seu arroubo de agora, cumpriu o que disse que faria. Eu mesmo a entrevistei dois dias depois de eleita. Perguntei o que ela faria com as pressões que brotavam do PT pela adoção de mecanismos de controle de conteúdo jornalístico. Ela afirmou que em seu governo ninguém iria criar nenhum embaraço à liberdade de expressão.

Tem sido assim desde então.

A censura de Cid Gomes à revista Isto É

Uma juíza cearense determinou a proibição da venda e a apreensão da edição da revista Isto É desta semana. A censora de toga agiu a pedido do governador do estado, Cid Gomes, que não gostou de ver seu nome arrolado entre os que receberam dinheiro do esquema da Petrobrás.

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Cid Gomes poderia ter se valido de qualquer medida judicial para obter a reparação do prejuízo moral, caso a informação não seja verdadeira. Preferiu vestir o capuz do algoz e apelar para um instrumento autoritário que a Justiça brasileira teima em não sepultar, a censura prévia. E sempre para atender aos interesses de políticos que se vêm tragados por escândalos.

Mais uma vez, o Judiciário afronta não apenas a Constituição brasileira. E o dano não é apenas da revista empastelada.  É dos leitores da revista. E não apenas os cearense: a decisão vale para todos os brasileiros, até para aqueles que não estão nem aí para os negócios do oligarca nordestino.

Com essa medida, o monstrengo da censura togada mostra novamente os dentes e as garras, como se estivesse a nos lembrar que o Brasil ainda tem uma democracia muito nova e muito frágil. Basta o estrilo histérico de alguma autoridade em maus lençóis e ele reaparece.

Em alguns casos, esse monstro cria amarras sistêmicas que se cronificam. É o que acontece, por exemplo, com a blogueira Adriana Vandoni, de Cuiabá, MT. Ela move uma luta solitária contra a corrupção em seu estado. A pedido de um político ficha-suja, Adriana continua censurada pela Justiça desde 2009. Não há um desembargador, uma câmara, ninguém no Tribunal de Justiça que consiga lhe devolver seu direito constitucional de se manifestar. E não se trata de qualquer meliante da política. Estamos falando de José Geraldo Riva, o corrupto mais processado do País. É o autor do pedido de censura à blogueira.

Por força das pressões exercida por Riva, Adriana não encontra trabalho em sua cidade. Até algumas semanas atrás, ela mantinha às suas próprias expensas o blog Prosa e Política. Sem ter mais a quem recorrer em sua luta solitária, Adriana decidiu enfrentar o meliante que a censurou em sua própria seara. Está disputando uma vaga de deputada estadual pelo PDT. Caso seja eleita, acabaram-se os dias de reinado de Riva na Assembléia Legislativa, de onde, segundo o Ministério Público, ele já roubou meio bilhão de reais.

Como se vê,  carapuça de algoz agora investida em Cid Gomes o equipara a gente do quilate de Riva. E a este se equiparam todos os juízes, advogados e partes que pugnam pela censura. É um instrumento odioso, que conspurca a democracia porque viola a liberdade de expressão. Porque tolhe o cidadão, o leitor, o telespectador ou ouvinte de ter acesso às informações sobre os malfeitos dos homens públicos.

Como se vê, resquícios da ditadura brasileira, que parece hoje tão distante no tempo e no espaço político, ainda assombram, como esqueletos emparedados e barulhentos que de tempos em tempos acordam para nos lembrar o quanto somos vulneráveis.

A lei que São Paulo jogou fora e as mortes que isso provocou

O que foi feito das blitze da Lei Seca em São Paulo ? Elas simplesmente desapareceram, fazendo com que o número de acidentes, mortos e feridos nas rodovias crescesse vertiginosamente nos últimos meses. E por que isso está acontecendo ? A resposta é bem simples: é graças à desastrosa política de segurança pública do governador Geraldo Alckmin, que simplesmente jogou fora um instrumento cujo advento representou uma conquista de anos para o cidadão brasileiro, a lei que pune severamente a condução de veículos por motoristas embriagados.

As estatísticas divulgadas hoje deixam claro: com menos blitze, ou com blitze quase inexistentes, os motoristas se sentiram à vontade para voltar a dirigir bêbados. E voltaram a matar. Os números não deixam dúvidas. Este carnaval foi uma carnificina. Não havia tantos mortos em acidentes desde 2010. Pelo menos 37 pessoas perderam a vida no alalaô do trânsito liberado para os beberrões — um terço a mais do que no ano passado.

A Polícia Militar tenta engabelar os cidadãos atribuindo a culpa por esse aumento vertiginoso à imprudência dos atropelados e à vulnerabilidade dos motociclistas. Antes de formular essa desculpa estapafúrdia, que culpa as vítimas por sua própria desídia, a PM e a SSP deveriam ter em conta que o cidadão, que não é tão opaco mentalmente como pretende o governo tucano, percebe com nitidez a falta das operações. Pense bem: quanta vezes você, que vive na cidade de São Paulo, foi parado em uma blitz e obrigado a soprar o bafômetro no ano passado ? 

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 Agora veja a foto aí em cima. Ela mostra um quadro que o carioca — note bem, o carioca — conhece muito bem. As blitze da Lei Seca no Rio de Janeiro mantêm a mesma frequência de antes. São feitas com estardalhaço. Onde há uma blitz há balões iluminados, barracas e uma grande exposição do logotipo que caracteriza esse tipo de ação. Tudo feito para que o motorista saiba que não vai ficar impune caso seja flagrado dirigindo embriagado. Diferentemente do quadro verificado em São Paulo, no Rio as autoridades não precisam ficar culpando os mortos pelos acidentes de que foram vítimas para justificar sua inação. Elas simplesmente agem — enquanto os subordinados de Alckmin cochilam. Uma vergonha para o estado mais rico da federação. 

A política de segurança pública sempre foi o calcanhar de Aquiles do governo Alckmin. Truculento demais em alguns momentos, tíbio e fraco na maioria dos demais, o governador, com sua sucessão de erros, já provocou a reversão de alguns indicadores que seus antecessores fizeram despencar com racionalidade e muito trabalho no passado. Se há algo que o paulistano médio deve a esse governo é justamente a sensação de insegurança que o aumento da criminalidade — evidente demais para não ser percebido — provoca em todas as camadas da população.

A inépcia do governo custa caríssimo à população. Estamos falando de vidas humanas que, como demostrou o entusiasmo com os primeiros resultados produzidos pela Lei Seca, deixam de se perder quando há uma fiscalização efetiva. A incúria das autoridades repercute de maneira funesta na vida das pessoas. Não há como não inferir que a redução do número de operações (foram 227 em 2012 contra apenas 70 no ano passado) não tenha relação direta com o aumento do número de acidentes e de vítimas. 

O governador do estado já deveria ter aprendido a calibrar suas ações na área de segurança. Mas, pelo que revelam as estatísticas (das causas e dos efeitos), ou não aprendeu, ou carece de competência para tratar do problema. Talvez lhe falte ainda uma lição: a que o eleitor ministra na urna, no momento de sufragar o nome daquele que vai gerir seu destino.

Os mascarados virtuais e o fascismo em rede

Concebida para ser o vetor de uma nova forma de organização social, a Sociedade da Informação, a internet se transformou rapidamente numa espécie de manicômio eletrônico em que a loucura e o oportunismo encontram território fértil para prosperar. Em meio a essa fauna, há oportunistas do anonimato que se incumbem (ou são incumbidos) da patrulha ideológica. O que essa gente faz ? Eles têm um papel análogo ao dos terroristas que explodiam bancas de jornais na década de 70. Assustam as pessoas para que elas se afastem de uma determinada linha de pensamento, caiam numa inexorável espiral do silêncio e se anulem como cidadãos desse vasto mundo virtual.

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Não é segredo para ninguém que os partidos, especialmente o PT, mantêm milícias pagas para interferir na maneira como o debate político se processa no ambiente da rede. Essas milícias, patrocinadas muitas vezes por dinheiro do contribuinte, atuam como multiplicadores das mensagens produzidas pela infantaria do jornalismo engajado e também, talvez principalmente, para desqualificar as mensagens produzidas pela infantaria inimiga. O leitor, aquele a quem a Constituição assegura pleno direito de se informar, acaba sendo fustigado pelos franco-atiradores de aluguel quando se identifica com esta ou aquela posição. 

Recebi durante o fim-de-semana um e-mail preocupante. Uma das leitoras mais ativas do blog contava que decidiu encerrar sua conta no Facebook por estar assustada com o assédio coativo dos milicianos da internet. E por que ela virou alvo ? Porque de vez em quando compartilhava textos deste blog no Facebook, com a própria leitora explica:

“Adoro sempre a maneira objetiva e clara como vc escreve as verdades dolorosas. E sempre compartilho tudo que vem de vc no meu Feed de Notícias. Em geral não faço comentários, apenas coisas como “então, né?”, “ói só”. E por aí vai. Na sexta feira eu compartilhei o  “PT INSTRUMENTALIZOU STF. QUAL É A NOVIDADE?”.  Compartilhei sem nenhum comentário. A novidade foi para mim. Um petralha de plantão partiu para a ignorância já começando a ofender a 1ª.pessoa que fez um comentário. Iniciou-se uma discussão e o petralha baixou completamente o nível falando palavrões. Eu tentei interferir pedindo que parasse com aquilo e que ele deveria respeitar a opinião de outras pessoas. Ficou tudo ainda pior. Ele falou tantos palavrões , ofendeu tanto que eu acabei por bloqueá-lo para que não pudesse falar mais nada porque eu já estava morta de vergonha”.

Em uma situação como essa, a arma do internauta é pífia. Tudo o que ele pode fazer se resume a tentar bloquear a pessoa que a ofende e denunciá-la aos administradores da página. No caso dessa leitora, porém, nem isso funcionou. Veja:

“Quando ele percebeu que eu o havia bloqueado começou a enviar msgs inbox. Me ofendeu tanto. Lembrei do livro do Tuma pq ele tentou “assassinar a minha reputação”. Só não me chamou de santa pq o resto foi tudo. Até de psicopata fui chamada. Não tive alternativa senão encerrar minha pagina do FB. Mas eu estou lhe contanto isso para que vc veja que não é apenas a imprensa que eles estão tentando boicotar. É sua opinião pessoal. Vc não pode falar nada contra eles (e que são as verdades) que eles partem para uma agressão tão desproporcional, tão descabida que eu não consigo entender. Me senti atacada por um Black Bloc como se estivesse em uma manifestação”.

Minha leitora, que mais do que justificadamente pede o anonimato para denunciar seu sofrimento, conclui o seguinte:

“Fiquei passando mal desde 6ª. Feira com uma sensação de medo, de pânico. Eles ameaçam, mentem, criam situações, acabam com vc. São capazes de criar verdadeiros dossiês sobre vc . Percebo que estão partindo para a atemorização para que vc fique quieto por medo. Ele disse que deveria me processar. Mas pq? Só pq eu penso diferente deles. Só pq eu penso como vc? O que eles estão tentando fazer  conosco, Fábio? Mesmo assim eu quero continuar postando seus textos.  Pensei em enviar por email para pessoas do meu relacionamento. Se for assim você me envia o link ou eu terei que procurar no Acta diurna?”

Ou seja: para manter esse vínculo de identidade, para continuar compartilhando textos com os quais sente empatia, minha leitora foi compelida a a recorrer a uma espécie de clandestinidade em rede. Quer continua lendo e compartilhando, mas apenas com um grupo de pessoas conhecidas, entre as quais estará imune às agressões que tanto a assustaram. Agora reflita: é ou não uma espécie de metáfora virtual da clandestinidade real que regimes de exceção impõem a quem discorda do pensamento hegemônico ? A mensagem é: não compartilhe textos que contêm pensamentos subversivos; não ouse manifestar sua opinião divergente; cale-se na sua insignificância contra-hegemônica. É isso o que os miliciano da rede querem que você entenda. 

Ainda ontem fiquei sabendo pelo blog do Reinaldo Azevedo que os mujahidin eletrônicos sabotaram a página do filósofo Olavo de Carvalho no Facebook. Trata-se, sem dúvida, de outro ataque da mesma natureza. Nao menospreze a fúria coativa desses vândalos da internet. Eles não estão aí para brincadeira. Além de formarem uma numerosa legião de mercenários, contam com a fúria irracional dos malucos em geral, com quem compõem para transformar blogs e fóruns em ambientes insuportavelmente beligerantes.