Concebida para ser o vetor de uma nova forma de organização social, a Sociedade da Informação, a internet se transformou rapidamente numa espécie de manicômio eletrônico em que a loucura e o oportunismo encontram território fértil para prosperar. Em meio a essa fauna, há oportunistas do anonimato que se incumbem (ou são incumbidos) da patrulha ideológica. O que essa gente faz ? Eles têm um papel análogo ao dos terroristas que explodiam bancas de jornais na década de 70. Assustam as pessoas para que elas se afastem de uma determinada linha de pensamento, caiam numa inexorável espiral do silêncio e se anulem como cidadãos desse vasto mundo virtual.
Não é segredo para ninguém que os partidos, especialmente o PT, mantêm milícias pagas para interferir na maneira como o debate político se processa no ambiente da rede. Essas milícias, patrocinadas muitas vezes por dinheiro do contribuinte, atuam como multiplicadores das mensagens produzidas pela infantaria do jornalismo engajado e também, talvez principalmente, para desqualificar as mensagens produzidas pela infantaria inimiga. O leitor, aquele a quem a Constituição assegura pleno direito de se informar, acaba sendo fustigado pelos franco-atiradores de aluguel quando se identifica com esta ou aquela posição.
Recebi durante o fim-de-semana um e-mail preocupante. Uma das leitoras mais ativas do blog contava que decidiu encerrar sua conta no Facebook por estar assustada com o assédio coativo dos milicianos da internet. E por que ela virou alvo ? Porque de vez em quando compartilhava textos deste blog no Facebook, com a própria leitora explica:
“Adoro sempre a maneira objetiva e clara como vc escreve as verdades dolorosas. E sempre compartilho tudo que vem de vc no meu Feed de Notícias. Em geral não faço comentários, apenas coisas como “então, né?”, “ói só”. E por aí vai. Na sexta feira eu compartilhei o “PT INSTRUMENTALIZOU STF. QUAL É A NOVIDADE?”. Compartilhei sem nenhum comentário. A novidade foi para mim. Um petralha de plantão partiu para a ignorância já começando a ofender a 1ª.pessoa que fez um comentário. Iniciou-se uma discussão e o petralha baixou completamente o nível falando palavrões. Eu tentei interferir pedindo que parasse com aquilo e que ele deveria respeitar a opinião de outras pessoas. Ficou tudo ainda pior. Ele falou tantos palavrões , ofendeu tanto que eu acabei por bloqueá-lo para que não pudesse falar mais nada porque eu já estava morta de vergonha”.
Em uma situação como essa, a arma do internauta é pífia. Tudo o que ele pode fazer se resume a tentar bloquear a pessoa que a ofende e denunciá-la aos administradores da página. No caso dessa leitora, porém, nem isso funcionou. Veja:
“Quando ele percebeu que eu o havia bloqueado começou a enviar msgs inbox. Me ofendeu tanto. Lembrei do livro do Tuma pq ele tentou “assassinar a minha reputação”. Só não me chamou de santa pq o resto foi tudo. Até de psicopata fui chamada. Não tive alternativa senão encerrar minha pagina do FB. Mas eu estou lhe contanto isso para que vc veja que não é apenas a imprensa que eles estão tentando boicotar. É sua opinião pessoal. Vc não pode falar nada contra eles (e que são as verdades) que eles partem para uma agressão tão desproporcional, tão descabida que eu não consigo entender. Me senti atacada por um Black Bloc como se estivesse em uma manifestação”.
Minha leitora, que mais do que justificadamente pede o anonimato para denunciar seu sofrimento, conclui o seguinte:
“Fiquei passando mal desde 6ª. Feira com uma sensação de medo, de pânico. Eles ameaçam, mentem, criam situações, acabam com vc. São capazes de criar verdadeiros dossiês sobre vc . Percebo que estão partindo para a atemorização para que vc fique quieto por medo. Ele disse que deveria me processar. Mas pq? Só pq eu penso diferente deles. Só pq eu penso como vc? O que eles estão tentando fazer conosco, Fábio? Mesmo assim eu quero continuar postando seus textos. Pensei em enviar por email para pessoas do meu relacionamento. Se for assim você me envia o link ou eu terei que procurar no Acta diurna?”
Ou seja: para manter esse vínculo de identidade, para continuar compartilhando textos com os quais sente empatia, minha leitora foi compelida a a recorrer a uma espécie de clandestinidade em rede. Quer continua lendo e compartilhando, mas apenas com um grupo de pessoas conhecidas, entre as quais estará imune às agressões que tanto a assustaram. Agora reflita: é ou não uma espécie de metáfora virtual da clandestinidade real que regimes de exceção impõem a quem discorda do pensamento hegemônico ? A mensagem é: não compartilhe textos que contêm pensamentos subversivos; não ouse manifestar sua opinião divergente; cale-se na sua insignificância contra-hegemônica. É isso o que os miliciano da rede querem que você entenda.
Ainda ontem fiquei sabendo pelo blog do Reinaldo Azevedo que os mujahidin eletrônicos sabotaram a página do filósofo Olavo de Carvalho no Facebook. Trata-se, sem dúvida, de outro ataque da mesma natureza. Nao menospreze a fúria coativa desses vândalos da internet. Eles não estão aí para brincadeira. Além de formarem uma numerosa legião de mercenários, contam com a fúria irracional dos malucos em geral, com quem compõem para transformar blogs e fóruns em ambientes insuportavelmente beligerantes.