Estive na posse da Presidente Dilma Rousseff ontem. Fez uma linda tarde em Brasília, bem diferente daquela tarde de chuva torrencial em que ela subiu ao Parlatório pela primeira vez, em 2010. Faltou só uma coisa para a festa ser perfeita: o povo.
Na Praça dos Três Poderes sobrou espaço. O miolo da praça estava vazio. Só havia gente ao largo da calçada mais próxima do Palácio do Planalto. O pool de emissoras de televisão teve que restringir as cenas às tomadas mais fechadas. Planos abertos iriam diminuir a importância cívica da posse quase sem povo.
Não me refiro à ausência absoluta de gente. Havia ali uns cinco ou seis mil gatos pingados que o PT contratou de baciada de alguns movimentos sociais e centrais sindicais que fazem as vezes de caixa de ressonância do governo. Eles são pagos para isso, são terceirizadores de claques. Os jornais hoje estão bastante generosos: falam em quinze mil pessoas. Estão sendo bonzinhos para com a Presidente reeleita.
De qualquer forma, o Gilberto Carvalho, que deixou o Planalto rapidamente, às cinco e meia da tarde, havia prometido reunir ali umas quarenta mil almas. Com muito boa vontade, pode-se dizer que conseguiu a quarta parte disso. Não está fácil, como parece óbvio, arregimentar gente para defender o PT e o governo. Nem pagando eles conseguem animar a militância.
A militância paga, por sua parte, cumpriu bem o que lhe foi contratado. Passou metade do tempo contando mantras de louvor governista, outra metade xingando jornalistas. Isso já é parte da natureza deles. Dilma, olhando para os buracos vazios do alto do Parlatório, fez que não ouviu os clamores contra a ‘mídia’ e assegurou que ninguém toca na liberdade de expressão no País. Vamos ver.
O governo que começa agora é zeloso para com as palavras. Num salto triplo carpado linguístico, consagrou o neologismo ‘Presidenta’ ao flexionar o gênero do particípio presente ‘presidente’ quatro anos atrás. Agora neste 2014, com sua posse sem povo, poderia, se quisesse (e não acredito que seja o caso!) consagrar o diminutivo ‘multidinha’, palavra muito boa para designar as pequenas multidões.