Deus me livre de um advogado desse!…

jonasandradeImagine a cena.O sujeito sabe que fez uma grande merda e está apavorado. Reconhece a tatuagem da própria panturrilha nas imagens do Programa do Datena.

As imagens se repetem uma duas, dez vezes. Agora estão também no Marcelo Rezende. Ele está a um passo de se tornar o inimigo púbico número um. Tem medo de sair à rua. Decide que precisa apresentar espontaneamente à polícia uma versão verossímil para tentar se livrar da co-autoria de um crime gravíssimo.

(Aqui há um hiato na história. Surge, não sei como,  o advogado Jonas Tadeu Nunes. É um hiato importante. Diz o jornal O Globo que foi o pai do garoto quem contratou.)

Fábio Raposo comparece sozinho à delegacia de São Cristóvão. Presta um declarações muito bem orientadas, assim transcritas em matéria do G1: “Só estou vindo aqui mesmo porque estou assustado demais. A minha foto foi divulgada até em mídias internacionais. Já recebi ligações de pessoas desconhecidas, não sei se são grupos ou o que são, pedindo para eu assumir o caso e falar que fui eu, tentando me obrigar”.

Não há, até esse momento, registro público da presença de advogado ao lado dele. Fábio Raposo, ou Fox, termina indicado.

Na manhã seguinte, o black bloc é preso na casa da mãe. Jonas Tadeu  surge então como patrono de Fábio Raposo. Fala em delação premiada. Escancara a culpa do cliente. Tudo o que o advogado consegue é equiparar a situação dois dois acusados.

(Aqui volto àquele hiato importante. Como não sei o que houve, imagino que a conversa entre consituído e constituinte foi a… seguinte:

– Mas dotô, eu não posso lhe pagar os honorários.

– Eu trabalho por paixão, não vou lhe cobrar nada!

– Ôxe, mano. Eu sou espada!

– Por amor à profissão, moleque!

– Ah, bom! E o que é que o senhor tá achando aí da situação ?

– Tá bem enrolada. Mas pra quem cuidou do Natalino, vai ser moleza.

– Natalino ?

– É um cliente antigo.

– O senhor também fez a defesa dele de graça ?

Saio do hiato.)

A versão de Fábio Raposo segue a lógica de Madame Satã (“A bala fez o buraco, quem matou foi Deus”). Teria “encontrado”o rojão no chão e “passado” para o outro rapaz, um desconhecido. Embalada em um discurso de todo aviãozinho do tráfico apanhado com drogas no bolso da bermuda: “achei no chão”.

Do nada, o estagiário do advogado aparece com um termo de declarações na mão dando conta de uma história surreal. A líder máxima dos mascarados teria ligado em nome do deputado Marcelo Freixo oferecendo pencas de advogados do PSOL para tirar os assassinos da cadeia.

O advogado fica indignado. “Manda dizer pra esse Freixo que aqui não precisa de advogado não”. Mas é Freixo quem fica possesso. Declara-se contra a violência e os violentos. Freixo é um político com cara de anti-político. Ele sabe que muitos desse celerados são seus eleitores. Deve ter perdido alguns votos.

Jonas Tadeu se transforma no grande pauteiro da imprensa. Com a polêmica com Freixo ainda quente,  saca do bolso do colete o nome do rapaz que lançou o rojão. Mais e mais manchetes. Jonas, o advogado, se transforma  também na sensação do jornalismo em tempo real.

Cai a noite, vem a madrugada e o onipresente causídico reaparece como um pesadelo no plantão das redações. Está no interior da Bahia com uma equipe de policiais. O homem que lançou o rojão, Caio de Souza, é preso numa pensão. Quando as algemas lhe são colocadas no pulso, Jonas Tadeu já é formalmente seu advogado.

O advogado foi com a polícia prender o acusado. No instante seguinte passa de perseguidor a procurador.

Entre uma aparição e outra, Jonas Tadeu trabalha também como assessor de imprensa. Seleciona repórteres de maneira a obter mais e mais exposição a cada “novidade”. Os da Globo são seus ‘alvos’ prediletos. A eles, confia o segredo sobre o destino de Caio. Uma equipe da emissora embarcou junto com ele para Feira de Santana. O termo de declarações foi dado a outra repórter. De presente.

A Band, vítima da tragédia, também é aquinhoada. Ganha do advogado a oportunidade de entrevistar por dois minutos Caio de Souza. Os índios também ganham  um espelhinho.

Vem a noite. De entrevista em entrevista, Jonas Tadeu vai complicando a a situação de seus próprios clientes. Acrescenta que black blocs são aliciados por políticos cariocas. O cliente dele teria recebido 150 reais para participar do quebra-quebra.

Já não são apenas os repórteres. Os políticos de oposição também estão em polvorosa. O que o advogado diz rapidamente se transforma em notícia.

Se é fato ou não, se é apenas estratégia de defesa, apura-se depois.

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