Perdeu, Mané!

Sabe o que tanto irrita o brasileiro médio no PT ? É essa mania crônica de alguns petistas de acharem que estão acima de tudo — da lei, da ordem, do Congresso, do Judiciário…

Onde quer que estejam, esses petistas têm um efeito corrosivo sobre as instituições. Do alto de um ministério ao inferno de uma penitenciária, lá estão eles, burlando as regras e bagunçando tudo. Como se fossem ainda guerrilheiros combatendo o sistema e o regime — mesmo onde eles são o próprio o Poder.

prisioneiro

Na chefia da poderosa Casa Civil, José Dirceu inventou o Mensalão para amealhar o dinheiro que iria desmoralizar o Congresso. Mobilizou o PT, sujou a ficha da legenda e provocou uma guinada à direita que levou seu partido a fazer par, na galeria da história, com o finado PFL e o muito vivo PMDB, que antes eram os senhores absolutos do fisiologismo.

Agora na Papuda, os privilégios distribuídos à manada mensaleira pelo guarda-mór do presídio, o governador Agnelo Queiroz, deixam claro que eles não se vergam. Onde houver uma sinecura, ela será manietada por um petista espertalhão. Não importa que não haja comissões a amealhar, esquemas dos quais partilhar, um VISANET com o qual se locupletar. Pode ser uma refeição diferenciada, uma visita escondida, o que estiver ao alcance da mão.

Se há normas estabelecidas, há um gatuno petista pronto para desmoralizá-las. Se há uma boquinha a ser apropriada, idem ibidem. E se o chato de plantão é também um petista, não tem problema. Para estes, há um estratagema muito bem sucedido já testado em casos renitentes como o do prefeito Celso Daniel.

No futuro, esses caras serão lembrados como os vendilhões do erário, como aqueles que saíram dos sindicatos sedentos pelo butim e não mediram esforços para fazer a pilhagem antes mesmo de sacramentar a conquista. E comeram tanto melado que lambuzaram sua existência para sempre.

Para eles não existe um “perdeu, Mané!”. Eles não perdem nunca. Estão sempre ganhando, seja qual for o contexto. Ganham nas licitações, nos contratos, nas indicações, nos conchavos. Não importa o que se ganha, o importante é ganhar sempre. Ganham até quando perdem. Não tendo muito a ganhar, ganham qualquer coisa: o carro estacionado no pátio do presídio, o emprego de fachada oferecido por um laranja panamenho ou uma central sindical… Como diria o filósofo Gérson, “o importante é levar vantagem em tudo, certo ?”

Errado!

Afinal, eles estão presos, foram condenados por uma corte sequiosa por absolvê-los. A despeito de todos os privilégios, seria muito melhor estarem soltos do que engaiolados, pleiteando vantagens que só se podem auferir no porão da masmorra. Ainda que doce e leve por conta de favores sem-fim, a Papuda é o que é: um presídio.

Existe alguma vantagem real nisso ? Se existe, não é para esses bobões que estão confinados. É para os outros, que andam livres por aí, camelando e palestrando sobre as vantagens de se ter bons amigos que aceitam pagar penas em seu lugar para que os mais espertos triunfem.

Não importa que busquem — e encontrem — lucro na refeição diferenciada, no emprego fictício para enganar o juiz das execuções, no carro estacionado na pátio do presídio. São vantagens relativas ao ambiente onde tais conquistas se dão. Não são vantagens reais nem podem se sobrepor ao gozo da liberdade como um valor absoluto.

Ainda que fiquem pouco tempo, ainda que estejam confortavelmente instalados na cadeia, eles jamais poderão apagar essa mácula de sua biografia. “Perdeu, Mané!”, foi o que a sociedade brasileira disse a cada um dos mensaleiros enjaulados em Brasília.

Conformem-se, pois!

Papuda, o inferno brasileiro

Delúbio Soares teve suspenso o direito de trabalhar fora da cadeia por decisão da Vara das Execuções Penais do Distrito Federal. O motivo: as mordomias concedidas ao presidiário petista, como carro com chofer estacionado no pátio, comida vinda de fora e visitas a qualquer hora.

Hell-Party-copy

José Dirceu despacha com quem bem entende na sala do diretor do presídio. Foi lá que ele recebeu, sem nenhum problema, agendamento ou autorização prévia, a visita de um defensor público que não tem nenhuma relação com a sua situação judiciária. 

A reportagem do jornal O Globo que revelou essa ‘audiência’ entre o chefe da Defensoria Pública da União e o chefe dos mensaleiros petistas explica assim o que aconteceu: “O defensor conta ter ido ao presídio sem avisar e, ao chegar à Papuda, o réu foi avisado de sua presença. Dirceu concordou em recebê-lo”. Ou seja: compete apenas ao presidiário José Dirceu, o novo chefe da Papuda, “concordar” com a realização de compromissos sociais dentro da cadeia para que eles aconteçam.

Parlamentares usam jalecos da Polícia Civil para entrar clandestinamente no presídio e visitar José Dirceu. O deputado Chico Vigilante usou roupa branca para se confundir com os detentos e ir ter com seu líder. 

Melhor do que isso, nem em em Assassinato de Reputações, do Romeu Tuma Jr. e do Cláudio Tognolli. Quem leu sabe do que estou falando.

Além disso, a multa que a justiça impôs aos condenados foi paga por vaquinhas milionárias. Não é pequeno nem pouco eficiente o esforço dos petistas para desmoralizar o Poder Judiciário e afrontar a sociedade.

O descalabro dos privilégios concedidos aos mensaleiros é tão grande que o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, foi chamado às favas pela Vara das Execuções Penais. Vai ter que dizer se pretende manter o tratamento VIP dados aos colegas de partido que se encontram guardados na Papuda ou se os mensaleiros terão que ser transferidos para presídios federais. 

Não há imagem melhor para ilustrar o que ocorre do que a piada do inferno brasileiro, onde todos estariam obrigados a consumir um balde de excrementos por dia — e ainda assim seria a preferida de dez entre dez almas penadas.

Porque um dia falta balde. Noutro falta merda .No terceiro, o diabo não vem.

A vingança dos mensaleiros

Bastou a quadrilha mensaleira baixar o xilindró, em outubro passado, para as coisas começarem a se degenerar no presídio da Papuda, em Brasília. A presença da caterva petista aumentou enormemente a entropia dentro da cadeia, a ponto de ser necessária a intervenção da Vara das Execuções  para fazer amainar o clima de festa partidária.

mensaleiros

Os sinais do que iria acontecer começaram muito antes da ‘internação’ da quadrilha (desculpe aí se ofendo seus amigos, ministro Barroso!). O carcereiro-mór, o governador Agnello Queiroz, mandou construir uma ala nova para receber seus companheiros.

Logo na primeira semana após a consecução das  prisões, mulheres dos outros presos passaram a reclamar dos muitos privilégios concedidos aos meliantes do PT: Visitas em horários e dias inapropriados, filas furadas na cara dura, convescotes sindicais, festas políticas e as muitas tentativas de alguns dos presidiários de engabelar a Justiça, caso notório de José Genoíno e suas crises cardíacas que jamais se confirmaram em sucessivas maratonas hospitalares.

Com a mesma naturalidade com que afrontaram as leis penais e a moralidade pública quando soltos, os petistas passaram a afrontar as regras — inclusive a etiqueta — que regem o sistema penitenciário. José Dirceu chegou a ter suspensa a discussão de  privilégios acertados com um advogado de Brasília visando a uma sinecura em seu escritório por supostamente ter falado por celular com um amigo de dentro da Papuda. E tudo isso depois da pantomima em que se transformou a primeira oferta de trabalho, feita por um hotel que pertencia a um fantasma panamenho (por que será que tudo o que acontece com essa turma é sempre tão torto e complicado ?). A propósito, a quem mesmo esse fantasma representava na sociedade do Hotel Nacional ?

Até a CUT, outrora tão altiva, acabou por reduzir-se ao papel de agência de emprego de bandido ao oferecer trabalho para que Delúbio Soares, o mais encrencado dos comissários petistas, pudesse transpor as ameias da Papuda. Deve ser fácil para uma central sindical que não preza a própria história. Afinal, o dinheiro que vai sustentar essa aberração  sai do bolso do trabalhador para o governo federal, que o repassa então à central.

Dois diretores da Papuda já caíram. Os privilégios aos petistas, que jamais foram contidos, agora ameaçam a estabilidade do próprio sistema. Fala-se abertamente em rebelião. O ministro Marco Aurélio de Mello lembrou que um presídio é um caldeirão. O aumento da entropia provocado pela insolência dos réus do Mensalão ameaça agora a paz social, não apenas as finanças do Estado. 

A rigor, não pode haver surpresa no que está acontecendo. Onde há um mensaleiro, há confusão. Não foi exatamente isso o que aconteceu quando eles chegaram ao Poder ? Foi dali, do alto da presidência, que eles montaram um esquema para conspirar contra a República, subornar parlamentares corruptos e corromper as relações institucionais com o parlamento. O aumento da entropia os persegue onde quer que eles estejam. Pela razão clara e cristalina de que são eles — Zé Dirceu, Delúbio, Genoíno etc — a força motriz por trás da implacável Segunda Lei da Termodinâmica petista.

A despeito disso tudo, o STF dos ministros Barroso e Teori se prepara para aliviar o sofrimento e encurtar a permanência dos criminosos mensaleiros nas malhas do sistema penitenciário, desmoralizando o primeiro julgamento. Todo mundo sabe que os dois meritíssimos juízes — e não só eles — estão ali para isso, e é exatamente isso o que vão fazer: impedir o Estado de punir essa quadrilha pelo crime de formação de quadrilha. 

Isso pode não ser bom para o País, mas vai ser bom para cerca de 5 mil brasileiros: os que não pertencem à facção partidária dos mensaleiros e querem paz para seguir cumprindo suas penas.