Todo mundo diz que o Rio de Janeiro é uma zona, que fica no limiar entre a civilização e a barbárie, que é a terra da Lei de Gerson, o que não deixa de ser ao menos parcialmente verdade. A cidade, engastada em um dos locais mais privilegiados do planeta em matéria de relevo, meio-ambiente e clima, tem seríssimos problemas de organização de seus espaços urbanos e distribuição dos bens públicos. Não chega a ser Sodoma, mas um pouco de enxofre e fogo talvez não fizessem mal ao processo civilizatório. Especialmente se despejados no lombo de meia dúzia de políticos e burocratas que se acham acima das leis e dos bons costumes.
Obseve a foto aí em cima. Ela mostra algo que os cariocas nem enxergam mais: em frente ao prédio onde funciona a Secretaria de Segurança Pública, carros são estacionados sobre a calçada, obrigando os pedestres a utilizar a rua para se deslocar.
O incrível é que a nem todos os cidadão é facultado o direito de cometer essa infração. As vagas são controladas por flanelinhas fardados. São os soldados a serviço do comando do Segundo Exército, sediado no Palácio Duque de Caxias, que tomam conta dos veículos e organizam o acesso ao estacionamento-calçada. Só têm acesso às vagas altos oficiais do Exército e burocratas de alto coturno da SSP-RJ. E ai de quem reclamar.
Na foto logo abaixo, outro flagrante desrespeito à legislação. Há 15 anos as normas de trânsito proíbem o transporte de passageiros nas condições que a fotografia registra. A vedação está prescrita no Art. 230 do Código de Trânsito Brasileiro e no decreto 2327/98 do DENATRAN. Mas não vale para a Polícia Militar do Rio de Janeiro. Na quinta-feira passada, duas camionetes lotadas de soldados do Batalhão de Choque costuravam o trânsito nas avenidas Atlântica e Princesa Isabel, em Copacabana, lotadas de soldados da corporação.
Das duas, uma: ou o BPChoque não preza minimamente as normas, ou não preza as vidas dos PMs que transporta nessas condições. Uma coisa, no entanto, é inquesionável: a PM do Rio de Janeiro, que tem como uma de suas atribuições controlar e fiscalizar o trânsito, desconhece e despreza solenemente a legislação e não se importa em disseminar maus exemplos.