Amigos, eu quero agradecer a lembrança do meu aniversário e contar uma história pra vocês.
Tive o privilégio de comemorar na Praça da Sé e na Avenida Paulista em meio a uma festa magnífica.
Os comensais não sabiam exatamente que era meu aniversário. Mas a festa estava lá.
Fui abordado diversas vezes. Nessas manifestações, é muito difícil passar incólume com um cinegrafista ao lado e um microfone na mão.
A saudação mais auspiciosa que recebi foi.. “imprensa burguesa!”. Sempre dita por alguém com a testa retesada, o dedo em riste, lançando perdigotos furiosos contra mim.
Havia outras variantes. “Imprensa golpista”, “jornalista escroque”, “manipulador fascista”, “filho da puta”…
Pensa que é fácil?
Em frente ao MASP, um sujeito notadamente bêbado arrancou o microfone da minha mão e jogou com toda força no chão. Era meu instrumento de trabalho. Ficou em frangalhos.
“Você é da imprensa burguesa, seu escroto! Você é da imprensa burguesa!”
Avancei contra ele. Comecei a gritar “vandalismo não” enquanto o empurrava com a ponta dos dedos no pescoço. Foi meio selvagem, mas eu estava puto da vida.
De repente, um coro se formou atrás de mim. “Vandalismo não! Vandalismo não!”…
Foi incrível.
Todas as pessoas que testemunharam a cena estavam ali, me amparando, me apoiando, recriminando a atitude fascista do babaca.
O vândalo saiu correndo e se perdeu na multidão. Imagino que tenha ficado surpreso ao ver a multidão cercá-lo para defender um repórter venal da imprensa burguesa.
Não foi menor do que a minha própria surpresa olhando o quadro pelo avesso.
Fiquei enaltecido duas vezes.
Primeiro, por me livrar da refrega. Segundo, por ter entendido na prática a rejeição dos manifestantes à violência e à depredação.
Tenho certeza absoluta de que esses que me xingaram não me conhecem. Se conhecessem, se acompanhassem meus posts aqui no Facebook, não encontrariam nenhuma razão para me agredir. Portanto, não era nada pessoal. Era a minha condição profissional.
Fiquei triste quando soube depois que queimaram um carro da Record.
Mais ainda quando vi o Caco Barcellos ser impedido de trabalhar na manifestação do domingo.
O Caco é um ícone de honestidade e seriedade. Com certeza iria dar voz aos que precisam ser ouvidos.
Quem perde quando isso acontece é justamente o cara que está na rua para dizer alguma coisa. Se um filho da puta desses quebra o meu microfone, tira de todos os demais, que estão ali desafiando desafiando bombas, cassetetes e vândalos, o direito de dizer o que pretendem do novo País que começam a construir.
Isso é fascismo. É cretinice. Mas acima de tudo é burrice.
Bem, o aborrecimento foi plenamente recompensado pelo sentimento de proteção e pertencimento.
Consegui trabalhar tranquilo dali em diante. Terminei a noite extasiado pelo show democrático, livre do esquizofrênico dualismo PT-PSDB, totalmente ausente das manifestações. Livre da cantilena desses partidos, do oportunismo dos políticos aproveitadores de eventos públicos.
E tive uma festa linda. Que só teria sido melhor se não houvesse esses penetras.
Porque é isso que são os vândalos, os provocadores e os trogloditas burros que querem se impor a todos os demais nessa grande festa dos atos de protesto: Penetras!